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Governo prepara novo programa para impulsionar irrigação no RS

O governo do Rio Grande do Sul prepara o lançamento de um novo programa de irrigação, mais amplo e estruturado, com base nas experiências observadas durante a missão oficial a Nebraska (EUA) - referência mundial em gestão hídrica e uso de tecnologia na agricultura. A proposta, batizada preliminarmente de Irriga + 3, deverá reunir ações de crédito, modernização de licenciamento, uso de aquíferos e integração entre secretarias e instituições públicas e privadas.

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O governo do Rio Grande do Sul prepara o lançamento de um novo programa de irrigação, mais amplo e estruturado, com base nas experiências observadas durante a missão oficial a Nebraska (EUA) - referência mundial em gestão hídrica e uso de tecnologia na agricultura. A proposta, batizada preliminarmente de Irriga + 3, deverá reunir ações de crédito, modernização de licenciamento, uso de aquíferos e integração entre secretarias e instituições públicas e privadas.

De Chicago, onde participa da EATS 2025, feira voltada para a indústria de alimentos e bebidas que termina nesta quinta-feira, o secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Edivilson Brum, explicou que a meta é ampliar o alcance da política atual. “Estamos formulando esse projeto de maneira mais robusta, com ideias novas. No Nebraska, 85% da irrigação vem do subsolo, cada pivô tem seu poço artesiano. No Brasil, 90% ainda depende de águas superficiais. Esse é um ponto que podemos evoluir”, afirmou o secretário, em entrevista ao Jornal do Comércio.

Brum, que integrou a missão governamental do RS ao Nebraska, explica que o novo modelo deve envolver um comitê interinstitucional, com participação das secretarias de Agricultura, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Econômico, além da Fepam, Emater e também do Ministério Público. “Há muita desinformação sobre o licenciamento. Hoje, para um poço artesiano, o processo sai em até 24 horas. E áreas de até 25 hectares são licenciadas diretamente pelo município”, lembrou.

O secretário defende uma mudança cultural e institucional para que o Estado avance. “Se você não irriga, não colhe. E se não colhe, não gera renda nem imposto. Quarenta por cento do PIB do Rio Grande do Sul vem do agro. Em três anos, perdemos meio PIB por causa das secas. Todos os poderes precisam colaborar para estabilizar essa questão.”

Uma das prioridades do governo é a criação de novas linhas de financiamento específicas, em articulação com o Banrisul, bancos de fomento e BNDES. “Estamos estudando, junto com a Fazenda e a Casa Civil, a constituição de um Fiagro estadual, com recursos públicos e privados. Esse fundo seria remunerado e destinado a projetos do agro, especialmente à irrigação”, adiantou Brum. A equipe também pretende convocar o BRDE e o Badesul até novembro, para uma reunião com o objetivo de definir a modelagem financeira.

O secretário reconhece que o avanço também depende de juros menores e de uma política macroeconômica alinhada. “Com a Selic no patamar atual, o crédito rural se torna proibitivo. Não adianta fazermos a nossa parte se não houver um esforço conjunto em nível nacional para reduzir o custo do financiamento.”

Brum reforça que a missão trouxe aprendizados práticos. “Eles (Nebraska) têm acompanhamento em tempo real do nível dos aquíferos. Quando há queda, a cultura é trocada por uma de menor demanda hídrica. Ainda não estamos nesse nível, mas temos capacidade técnica e humana para chegar lá”, afirmou.

O plano estadual deve incorporar sugestões do setor privado. Em entrevista ao JC, o diretor da Lindsay na América Latina, Cristiano Trevizam, defendeu o tripé que considera essencial para destravar o setor: infraestrutura e energia, financiamento de longo prazo e segurança jurídica. Mesmo com os custos elevados, o mercado gaúcho mostra vitalidade, com cerca de 5 mil pivôs instalados e a aquisição anual de 250 a 300 equipamentos. “A irrigação é um divisor de águas na produtividade. No milho, uma lavoura irrigada pode render 200 sacas por hectare, contra 80 no sequeiro”, ressaltou.

Trevizam também apontou diferenças técnicas entre o Brasil e os Estados Unidos: “No Nebraska, os pivôs operam em uma safra por ano. No RS, eles trabalham em três safras, exigindo estruturas mais robustas.”

Com 70 anos de atuação, a Lindsay tem sede em 11 países, mas atua no mundo inteiro. No Brasil desde 2002, sua fábrica está localizada em Mogi Mirim (SP), de onde atende toda a América Latina, aproveitando o ecossistema de componentes disponível na região. Mas nem por isso deixa de investir no RS — um de seus principais mercados —, onde conta com seis unidades de suporte ao cliente, com loja e oficina.

Estamos falando de projetos de irrigação cujo custo médio gira em torno de R$ 20 mil por hectare, o que facilmente pode representar valores entre R$ 400 mil e R$ 3 milhões. Estar em São Paulo torna nossos produtos mais competitivos no mercado”, observou o executivo.

A irrigação no RS e o salto esperado

O Rio Grande do Sul vem expandindo a área irrigada com apoio do Programa Irriga+ RS, que oferece subsídio de 20% (até R$ 100 mil por projeto). Desde sua criação, mais de 1.400 propostas foram aprovadas, totalizando 26 mil hectares irrigados em implantação e R$ 460 milhões em investimentos privados.

Segundo a Radiografia da Agropecuária Gaúcha, 99,9% das lavouras de arroz já são irrigadas, enquanto as demais culturas ainda avançam de forma gradual: soja (3,6%), milho grão (16,3%), feijão segunda safra (15%), milho silagem (1,2%) e tabaco (1,5%). A evolução recente é significativa — entre 2020/2021 e 2024/2025, a área irrigada de soja saltou de 130,6 mil para 242 mil hectares, e a de milho de 79,9 mil para 117 mil hectares.

O especialista de tecnologia da Lindsay, Rodrigo Bernardi, ressalta que o uso racional da água é o grande diferencial da irrigação moderna. “A automação permite medir com precisão o consumo hídrico, o tipo de solo e a necessidade real das plantas. Apenas de 5% a 10% da água é absorvida pela planta; o restante retorna ao ciclo natural. Monitorar isso é o que garante sustentabilidade”, explica.

Com a modernização tecnológica, os sistemas de irrigação passaram a incorporar sensores, inteligência artificial e gestão remota. No Nebraska, por exemplo, há acompanhamento via satélite e drones para medir o nível dos aquíferos e orientar o manejo — uma prática que o RS pretende adaptar em parceria com a Emater, Fepam e universidades.

Para o secretário Edivilson Brum, o Estado tem base técnica para esse salto. “Temos estrutura, conhecimento e pessoal qualificado. O que falta é ampliar o acesso ao crédito e reforçar a cultura da irrigação. O produtor precisa entender que ela é um investimento de sobrevivência — e de competitividade para o futuro do campo gaúcho”, conclui.

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