A imposição pelos Estados Unidos de maiores tarifas a produtos brasileiros impactou produção e rotinas em diversos setores no Rio Grande do Sul. Férias coletivas, diminuição de turnos e até demissões estão sendo adotadas, como formas alternativas diante do impacto da medida.
A Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), uma das maiores fornecedoras mundiais de munição para países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), afastou, por duas semanas, 130 dos cerca de 400 empregados da fábrica de Montenegro. A medida teve que ser feita mediante acordo com o sindicato dos metalúrgicos, uma vez que, por lei, o aviso de férias deveria ser dado com maior antecedência. O período finda no dia 25. “Na próxima semana, vamos nos reunir novamente porque, provavelmente, irão estender por mais 15 dias”, explicou o presidente da entidade, Francisco Kuhn da Costa.
Fundada em 1926, a CBC, controladora da também fabricante de armas, a gaúcha Taurus, suspendeu, temporariamente, no Estado a fabricação de carabinas longas. Outra medida foi adiar o investimento que faria na planta em São Paulo, onde iria dobrar a capacidade produtiva no município de Ribeirão Pires.
No setor de madeira, pelo menos metade dos trabalhadores de empresas que exportam para os Estados Unidos teve alteração no horário de trabalho, seja férias ou diminuição do turno. O levantamento foi feito pelo Sindimadeira RS, entidade representativa das indústrias do setor. De acordo com o presidente Leonardo De Zorzi, o setor foi um dos mais impactados pelo aumento das tarifas.
“Desde o primeiro dia (quando o presidente Donal Trump anunciou a medida), estamos trabalhando para encontrar caminhos para evitar o pior, que seria a parada das atividades ou demissões em massa. Grande parte das nossas associadas está com rodízio de férias e diminuição de turnos. A maioria optou por não dar férias coletivas para manter a roda girando”, conta o presidente. A diminuição da produção deve permanecer enquanto o mercado se mantém estagnado e com dificuldade de absorção dos produtos, projeta De Zorzi.
“Fizemos um levantamento entre as nossas associadas. Nas que têm os Estados Unidos como principal mercado, trabalham 2,4 mil pessoas na indústria e 350 no processo de colheita. Mais da metade teve alguma alteração de horário, seja diminuição de turno ou férias forçadas”, relata.
Entre as empresas impactadas pelo tarifaço de Trump, a Agroindustrial Sul Pinus, que em Mostardas tem 2 mil hectares plantados, já vinha trabalhando há algumas semanas em meio turno. No entanto, não foi o suficiente para fechar as contas. A empresa tomou a decisão de demissão de funcionários das unidades de Piratini e Encruzilhada do Sul.
Há mais de 25 anos operando com florestas de pinus plantadas e madeira para produtos como pallets e cercas, cerca de 50% da produção vai para os Estados Unidos, via México, país também sob as tarifas norte-americanas. Com cerca de 340 funcionários, a empresa, até mês passado, produzia 7 mil metros cúbicos de madeira, passando para os atuais 4 mil metros cúbicos. A expectativa dos administradores é de que, nos próximos dias, não passe de 1,2 mil metros cúbicos. Mensalmente, eram enviados até 100 contêineres para os dois países, sendo que nesta semana foram embarcados apenas 11.
“Nessa briga política, somos a parte mais fraca, somos nós que sofremos”, lamentou o sócio-administrador da empresa, Ary Roberto Leite. O gestor também critica a medida do governo federal, que anunciou linhas de crédito, uma vez que a dívida deverá ser paga em algum momento.
Uma alternativa estudada pela empresa é o comércio de madeira aplainada, que não estaria contemplada na lei. Ainda assim, não seria o suficiente, uma vez que os ganhos da empresa estão em volumes maiores.
O gestor informou que foi dado aviso prévio a totalidade de empregados de duas unidades. Em Piratini, foram 37 trabalhadores e, em Encruzilhada, outros 80. “Decidimos demitir e indenizar todos, tudo conforme a lei, enquanto temos saúde financeira para pagar”, apontou.
A Fiergs, por meio do Conselho de Relações do Trabalho (Contrab), emitiu recomendação de utilização da negociação coletiva em caso de necessidade de medidas excepcionais. A entidade sugere sete medidas a serem avaliadas pelas empresas e sindicatos de trabalhadores: redução proporcional da jornada e de salário; suspensão temporária do contrato de trabalho (layoff); antecipação de férias individuais e coletivas; banco de horas anual; teletrabalho; antecipação de feriados; e escalas diferenciadas ou revezamento.
A entidade ressalta que permanece em busca de soluções para a preservação dos empregos. Além disso, segue atuando junto ao governo federal para que novas medidas possam ser implementadas com esse objetivo.
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