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Litoral Norte vira destino permanente e aquece economia de cidades costeiras no RS

O que antes era escolha de aposentados agora se torna tendência entre famílias jovens e profissionais em atividade: viver no Litoral. Impulsionadas pelo novo modelo de trabalho e pela busca por qualidade de vida, regiões como Torres, Capão da Canoa (foto) e Xangri-Lá atraem quem quer fugir do estresse dos grandes centros. Famílias com filhos pequenos veem nesses locais um ambiente mais seguro e propício ao desenvolvimento. A mudança já impacta a economia e a infraestrutura das cidades costeiras, com expansão de escolas, clínicas, coworkings e lazer. As praias deixam de ser apenas destino de verão e se transformam em locais para viver o ano todo — com qualidade.

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O que antes era escolha de aposentados agora se torna tendência entre famílias jovens e profissionais em atividade: viver no Litoral. Impulsionadas pelo novo modelo de trabalho e pela busca por qualidade de vida, regiões como Torres, Capão da Canoa (foto) e Xangri-Lá atraem quem quer fugir do estresse dos grandes centros. Famílias com filhos pequenos veem nesses locais um ambiente mais seguro e propício ao desenvolvimento. A mudança já impacta a economia e a infraestrutura das cidades costeiras, com expansão de escolas, clínicas, coworkings e lazer. As praias deixam de ser apenas destino de verão e se transformam em locais para viver o ano todo — com qualidade.

A ocupação profissional flexibilizada pelo trabalho remoto e a busca por um estilo de vida mais tranquilo e seguro, especialmente quando crianças estão envolvidas, têm espalhado novos moradores pelo Litoral Norte nos últimos anos. Carolina Perotto, 43 anos, o marido e filha, Clara, de quatro anos - além de três gatos - são um exemplo típico: deixaram a capital gaúcha para trás e não se arrependem de terem escolhido Torres para morar desde 2022. Cada vez mais, ela garante, casos parecidos com o seu se repetem nas redondezas.

"Mesmo após a pandemia, o trabalho do meu marido se manteve remoto; o meu, na época, também. Isso facilitava a troca de cidade", relembra ela. "Com o nascimento da minha filha, veio o desejo que ela tivesse mais segurança e liberdade para crescer feliz", completa. Há poucos meses, Carolina começou um negócio de cestas de presente na cidade. "Aqui tenho segurança, tranquilidade. O clima aqui é mais ameno. Poder levar minha filha pra brincar na beira da praia ou em outros cantinhos lindos da cidade é impagável!", diz, satisfeita.

Empreendedora na área de vendas pela Internet, também em Torres, Renata Lopes, 38 anos, foi precursora dessa migração, em 2018, e acompanhou de perto a cidade crescer e novas famílias chegarem. "Viemos eu, meu marido e nossos dois filhos. E hoje vejo as pessoas buscando as mesmas coisas que nos motivou a vir: mais qualidade de vida", assegura. Mesmo com uma certa instabilidade financeira inicial, o casal nunca se arrependeu, pois acredita que os benefícios compensaram. "A segurança, não depender de carro e ônibus para tudo, passamos a caminhar mais, usar bicicleta e praticar esportes", enumera ela.

Associada ao bem-estar, a proximidade do mar sempre foi, historicamente, o maior e irresistível argumento para atrair as pessoas para a região. Nos últimos anos, um forte movimento na construção civil e investimentos na infraestrutura regional impulsionam o desenvolvimento econômico. Quem não quer mais esperar a aposentadoria para viver uma vida menos estressante e mais perto da natureza encontra no Litoral Norte tudo do que precisa o ano todo.

A pandemia por Covid-19 e mais recentemente as enchentes deram o empurrãozinho final. "Houve mudanças nas prioridades das pessoas", explica Edenilson Moreira da Silva, corretor na Osmar Pinto Imóveis, especializada em vendas e locação anual com mais de 50 anos de atuação na região de Torres. Segundo ele, até os anos de 2020/2021, a média anual de contratos de locação era de aproximadamente 80 imóveis. Desde 2023 esse número saltou para cerca de 370 imóveis locados, sendo aproximadamente 85% deles residenciais.

"Muitos estão migrando do aluguel de temporada para o aluguel anual, buscando fixar residência na cidade", anota. Ele observa um número crescente de profissionais que atuam em home office, como servidores públicos e trabalhadores do setor de tecnologia e serviços, que optam por morar onde podem ter mais qualidade de vida. "Essa diversidade de perfis tem enriquecido a dinâmica local e contribuído para o desenvolvimento econômico e social da região", afirma. Segundo ele, muitas pessoas já estão optando por morar em Passo de Torres, no Estado vizinho, e trabalhar ou circular entre as duas cidades.

Mais ao sul, Capão da Canoa é outra opção com potencial de desenvolvimento para profissionais liberais com suas famílias na busca por outro estilo de vida. O crescimento expressivo de empreendimentos imobiliários alarga os limites da cidade e imprime um ritmo consistente de novidades em comércio e serviços.

"Não sofremos mais da sazonalidade. Há movimento em diferentes segmentos, de segunda a segunda", relata Atilar Gilberto Gerstner Filho, conselheiro do Creci no Litoral Norte, vice-presidente da Associação de Corretores e Imobiliárias de Capão Da Canoa (Acica). Nascido e criado na região há 44 anos, é testemunha da explosão demográfica desde a pandemia. Ex-vice-prefeito (2013-2017) e ex-vereador (2017-2020), ele ilustra: "O número de carteiras SUS em 2013 era de 55 mil. Em 2022, saltamos para 105 mil cartões cadastrados SUS. Estamos com praticamente 130 mil habitantes em Capão".

Cidades menos centrais também viram destino definitivo

Mesmo praias consideradas menos centrais também se transformaram nos últimos anos. A servidora púbica Carina Schilling, 37 anos, mora desde 2023 em Atlântida Sul com seus quatro pets. "É outra vida aqui, vibe leve, tranquila. Me sentia desencaixada em Porto Alegre. Com a regulamentação do trabalho híbrido, decidi pela mudança", conta ela, para quem a experiência na casa dos pais, em Balneário Nordeste, durante a pandemia, foi fundamental para perceber que era possível viver no Litoral. "Poder levar o Trovão e o Cacau para passear beira-mar não tem preço", comenta, sobre seus pets.

Da época de veranista, as mudanças são muitas. "Antigamente, quando meu pai precisava de reparo na bike, não tinha oficina na praia deles fora do verão. Recentemente, ele contou que agora tem uma aberta o ano todo", conta ela. Na esquina da rua onde Carina passou a residir, uma outra oficina e loja de bicicletas de 300 metros quadrados é, para a servidora pública, outro bom exemplo de que como o Litoral está diferente: tem movimento o ano todo.

"Não existe mais baixa temporada", avisa o proprietário da Mão na Roda Bikes, Leonir do Santos, morador da região há 30 anos, vindo do interior do Estado. "Muita gente descobriu que existe vida na praia e decidiu ficar", comenta ele, afirmando que o movimento fora da temporada aumentou três vezes nos últimos anos. Conforme a experiência dele, mais de 90% das pessoas que passam a viver na praia usam bike para se locomover.

Os modelos elétricos caíram no gosto de quem fixou residência e trabalha nas redondezas. "Dobrou a procura", ele afirma. Santos nota melhorias em toda a rede de serviços. "Os comerciantes passaram a investir. Ha cinco anos não tinha tanta farmácia aberta o ano inteiro. Os serviços têm alto padrão. Na padaria, se você quiser, pode tomar café da manhã, almoçar e jantar. Há anos atrás, a gente tinha de procurar por pão fresco", recorda ele.

A título de curiosidade, o volume de lixo recolhido pela prefeitura de Imbé, na baixa temporada (abril a novembro), saiu de pouco mais de 5,5 mil toneladas em 2019 para quase 7,3 mil toneladas em 2024.

Cenário transformado

Os meses de abril a novembro da atualidade em cidades como Capão da Canoa, Xangri-lá, Tramandaí, Imbé e Torres em nada lembram o vazio que caracterizava a região fora do veraneio há poucos anos.

Movimento o ano todo

Números da Corsan podem ilustrar com propriedade a presença de mais pessoas no Litoral o ano inteiro. Um recorte sobre os cinco principais municípios demostra forte crescimento em unidades ativas e no consumo de água no período identificado como “baixa temporada” (abril a novembro). Considerando Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé, Torres e Xangri-lá, de 2019 a 2024, houve aumento médio de 16% no número de unidades ativas. Com relação ao consumo, o acréscimo médio chega a 21%. Isoladamente, Capão aumentou o consumo de água na baixa temporada em aproximadamente 43%.

  • Consumo de água na “baixa temporada”

Alta de 21% entre 2019 e 2024 na média de consumo (m³) de abril a novembro, considerando os cinco principais municípios. 

  • Economias ativas da Corsan na “baixa temporada”

Alta de 16% entre 2019 e 2024 na média das economias ativas de abril a novembro, considerando os cinco principais municípios.

Vendas de imóveis em alta

Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), a venda de imóveis no Litoral Norte bateu recorde em 2024. Foram R$ 6 bilhões, uma alta de 20% sobre 2023. As cinco praias que mais movimentaram o mercado imobiliário do Litoral Norte em 2024 (em vendas) foram:

Capão da Canoa – R$ 1,7 bilhão
Xangri-Lá – R$ 1,6 bilhão
Torres – R$ 1 bilhão
Tramandaí – R$ 580 milhões
Imbé – R$ 420 milhões

O que dizem os moradores

"Tem lojas que antes fechavam durante o inverno e agora não fecham mais."

Carolina Perotto, 43 anos, que vive em Torres desde 2022

"Percebo mais serviços de saúde nas redondenzas, como em Capão, Xangri-lá e Imbé."

Carina Schilling, 37 anos, servidora pública, que vive em Atlântida Sul desde 2023

"Quando a gente veio, tudo fechava ao meio-dia ou fechava cedo. Agora, fica mais tempo aberto, o ano todo."

Renata Lopes, 38 anos, empreendedora em Torres, para onde se mudou com a família em 2018, deixando a Capital

"Aumentou muito o ramo de farmácias, por exemplo. Mercados também, que vieram de Caxias do Sul, de Lajeado e os próprios estabelecimentos locais incrementaram o atendimento."

Leonardo Meira, morador de Capão da Canoa há 20 anos, servidor público e síndico

"Descobri alguns serviços com custo menor do que em Porto Alegre. Tudo funciona o ano inteiro."

Ana Laura Nunes, 33 anos, que tem passado mais tempo em Torres do que na Capital.

Demanda e oferta de internet explodem na região

A oferta e a qualidade da internet em determinada região são resultado de seu progresso social, mas também acabam fomentando a economia. A partir de dados da Anatel, um olhar sobre este ramo, em municípios como Torres, Capão da Canoa, Tramandaí, Imbé e Xangri-lá, dá conta de uma transformação significativa nos últimos anos.

O número de prestadoras do serviço mais do que dobrou desde 2019. Conforme a agência, em fevereiro de 2019 eram 23 operadoras. Dados do início de 2025 apontam 50 empresas oferecendo internet na região que abrange estes cinco municípios. A Vero domina o mercado, seguida pela Viu Internet e pela Claro.

"O mercado de internet local cresceu bastante nos últimos anos na região, em média 23% ao ano, muito acima do mercado de banda larga brasileira. Na verdade, o crescimento registado foi de 32% ao ano", informa José Carlos Rocha, diretor executivo de vendas e marketing da Vero. Conforme o executivo, a empresa tem ampliado a gama de serviços, indo além da simples conectividade, e lidera o mercado em oito das 11 cidades que atende no Litoral Norte.

Conforme o ranking da Anatel para fevereiro deste ano, nos cinco municípios pesquisados, a Vero soma mais de 43,4 mil acessos (assinantes), seguida pela Viu Internet (28,7 mil) e com a Claro em terceiro, com 28,2 mil. Em fevereiro de 2019, a Claro tinha pouco mais de 17 mil, e a INB Telecom (adquirida pela Vero Internet em agosto de 2020), quase 9 mil.

Em nota à reportagem, a Claro informou que vem expandindo sua estrutura móvel e fixa, atenta às demandas da região, inclusive implantando sites 5G em locais onde há maior densidade de terminais dessa tecnologia, além de ampliar o sinal em áreas já existentes e nas regiões onde a construção civil tem avançado em velocidade.

Outro ponto de destaque e estratégico para o setor é a importante melhoria realizada nos trechos de mobilidade, como, por exemplo, a Rota do Sol, que liga a região do Norte do Estado ao litoral, que mais que dobrou sua cobertura. Além dessa ampliação de novos sites, a Claro afirma ter modernizado e ampliado a capacidade em mais de 170 antenas, para suportar o crescimento expressivo de tráfego de dados, que anteriormente era específico dos períodos sazonais.

Colégio Pastor Dohms tem mais procura do que vagas

É na educação que está um dos flagrantes mais evidentes da presença de famílias como novos moradores do Litoral Norte - especialmente na região de Capão da Canoa, como reflexo da expansão imobiliária local voltada a um público de maior poder aquisitivo.

Em 2022, o Colégio Pastor Dohms passou a funcionar em uma nova sede, mais ampla, absorvendo um aumento de quase 26% no número de alunos. A projeção feita pela entidade previa chegar a 750 anos em cinco anos (eram 450 na época).

Atualmente, antes do prazo, o número total de estudantes é de 860 em Capão da Canoa, com fila de espera. "Para 2025, uma turma inteira de 1ª ano ficou de fora", afirma a diretora da unidade, Odla Viani Hennig Schwalm, que há cinco se mudou para o Litoral e acompanha o que chama de "um crescimento muito grande" na área onde atua, aliado a uma mudança no perfil médio das famílias que passaram a compor a comunidade escolar, muito mais diverso, vindas da Serra, de Porto Alegre, Região Metropolitana, Santa Catarina e até Brasília. Em 2023, o crescimento no número de alunos da instituição foi de quase 23%; no ano seguinte, mais de 10%; e, no início deste ano letivo, de 4,5%. Não tem mais vaga. O Centro de Ensino Pastor Dohms, fundado em Porto Alegre em 1931, iniciou suas atividades em Capão da Canoa em 2005, em espaço alugado. Nos últimos anos, está atento à demanda que a presença de famílias está provocando no Litoral Norte e faz planos para, mais uma vez, ampliar os serviços locais. O Pastor Dohm administra também uma unidade em Tramandaí.

A expansão não é meramente física mas conceitual, para atender as expectativas de um perfil de pais e estudantes que chega dos grandes centros urbanos, acostumados a modelos educacionais mais complexos e uma proposta educacional mais completa, da educação básica até o encaminhamento dos jovens para o mundo. "O nosso público principal são os moradores desses novos condomínios horizontais, em Xangri-lá, Atlântida, Capão da Canoa", aponta a diretora, ciente do papel da instituição em todo o contexto de desenvolvimento da cidade. É comum ouvir dos pais que buscam a escola a frase "só vamos dar esse passo (o de morar na praia) se conseguirmos vaga com vocês".

O mercado imobiliário residencial da região está longe de se acalmar. Segundo projeções da Associação dos Corretores e Imobiliárias de Capão da Canoa (Acica) para os próximos cinco anos, 15 novos condomínios horizontais e outros 120 verticais devem se juntar aos já existentes somente nas imediações do município - sem contar praias vizinhas. "Capão da Canoa tem hoje aproximadamente 2 mil condomínios residenciais verticais e temos aproximadamente 10 condomínios horizontais", afirma Atilar Gilberto Gerstner Filho, vice-presidente da entidade.

Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), a venda de imóveis no Litoral Norte bateu recorde em 2024. Foram R$ 6 bilhões, uma alta de 20% sobre 2023. Com 18 anos de experiência no ramo imobiliário e à frente de duas imobiliárias com atuação em Capão, Xangri-lá e Atlântida, Diego Furlan calcula um crescimento de mais ou menos 20% a 30% de moradores em busca de qualidade de vida desde a pandemia. "A maioria que está vindo morar em Capão são famílias , casais com crianças. A infraestrutura do Litoral mudou muito. As pessoas perceberam que a praia virou cidade de moradia", testemunha ele.

Cresce a busca por escritórios compartilhados

Como reflexo da chegada ao Litoral Norte de um perfil profissionalmente ativo e autônomo de novos moradores, espaços de coworking crescem em Capão da Canoa e Torres, especialmente. Um público bastante diversificado - entre pequenos e médios empresários, profissionais de TI, advogados, psicólogos, nutricionistas, que fazem atendimentos online e presenciais - têm optado pelo melhor custo-benefício das salas compartilhadas.

"Temos acompanhado uma tendência de aumento na procura, mesmo nos meses pós-verão. Nós temos tido um aumento em torno de 25% a 35% de procura", afirma Eliani Ferreira, proprietária do espaço Sopro, em Capão da Canoa.

Em operação há dois anos e meio, o lugar surgiu na esteira das oportunidades verificadas no período pandêmico e pós-pandêmico, quando a cidade recebeu muita gente nova que acabou ficando. O coworking acabou sendo uma boa alternativa para os home officers que buscavam um ambiente tranquilo, com infraestrutura, que permitisse focar, já que trabalhar de casa se tornava maçante e improdutivo.

Eliani diz que há aumento de procura nos meses pós-verão | SOPRO/Divulgação/JC

Eliani diz que há aumento de procura nos meses pós-verão SOPRO/Divulgação/JC

"No ano passado, em função da enchente, tivemos no mês de maio uma procura grandiosa de clientes e pessoas que acabaram vindo para o Litoral. Ficamos bastante surpreendidos e, de certa forma, satisfeitos por poder atender essa demanda diante de uma catástrofe tão grande", relembra Eliani. "Percebo um potencial de crescimento aliado ao aumento da população fixa da cidade e que também mais pessoas passem a entender o conceito", conclui a empreendedora.

Também inaugurado como consequência da migração verificada durante a pandemia, a Occri, em Capão da Canoa, nasceu das próprias necessidades da idealizadora, a advogada Bárbara Brum, às voltas com as demandas como profissional e mãe. "Criamos o coworking em 2022, porque visualizamos uma mudança muito significativa na cidade, e muita gente apresentando improdutividade em home office", conta ela. O lugar tem sido usado quase que exclusivamente por mulheres, com entre 20 e 50 anos, 95% autônomas.

Occri tem recebido principalmente mulheres, 95% delas autônomas | OCCRI/Divulgação/JC

Occri tem recebido principalmente mulheres, 95% delas autônomas OCCRI/Divulgação/JC

"Tivemos uma aumento de 50% de 2024 para 2025. Acreditamos que o ambiente compartilhado de trabalho terá um aumento significativo, pois percebemos uma tendência mundial nesse sentido. Com as enchentes de 2024, o aumento foi ainda mais importante, pois muitas pessoas visaram o Litoral como uma alternativa de local seguro, próspero e leve para se trabalhar e viver", afirma Bárbara.

Aberto há aproximadamente cinco meses, o Workey Space é outra opção no Litoral, dessa vez em Torres. Conforme o proprietário, Cristiano Alves, a maioria dos clientes trabalha com o universo digital. Também há nutricionistas, publicitários e webdesigners que usam o local mais pontualmente. Nesse momento, por exemplo, produtores da novela Paulo: o Apóstolo, da Rede Record, estão utilizando o espaço como escritório provisório, enquanto cenas são gravadas na Praia da Guarita.

"A demanda tem crescido à medida que o coworking fica mais conhecido, com um aumento na procura na casa dos 10% ao mês", afirma Alves. Empresário do ramo imobiliário, ele projeta que a região de Torres, incluindo Passo de Torres (SC) e Dom Pedro de Alcântara, chegaria a 90 mil habitantes em cinco anos, efeito da expansão na construção civil.

Com as enchentes, a migração se intensificou. "Com a transferência do Aeroporto de Torres para Infraero e a vinda do Porto Meridional, em Arroio do Sal, acreditamos que a cidade será um pool de negócio e logística, aumentando o número de pessoas em trânsito e se fixando", analisa o empresário.

Casal deixa Canoas para empreender em Capão

Ex-morador de Canoas, o casal de contadores Debora, 39 anos, e Alan Santiago, 48 anos, optou por começar uma nova vida em Capão da Canoa desde o ano passado. A enchente acabou sendo estopim da busca por maior qualidade de vida no Litoral, principalmente pensando nos filhos. Além do bebê Théo, Debora está grávida. Com liberdade para trabalhar de qualquer lugar, encontraram no Coworking Sopro custo-benefício ideal.

"Trabalhando em casa, comecei a sentir falta de um rotina de escritório, com horários certos", comenta Debora. "Procuramos por salas comerciais, mas consideramos alto o valor do aluguel, então, no coworking fomos bem recebidos, gostamos do ambiente e tem a possibilidade de
networking", explica.

Os contadores migraram levando junto a base de clientes que já tinham e agora se empenham em buscar novos na região. Em geral, o casal está bem satisfeito com a mudança, embora Debora sinta falta dos shoppings dos grandes centros urbanos. "Para o nosso filho é maravilhoso. O clima, a segurança, o trânsito… Tem tudo e tudo é perto", ela comenta, acrescentando que já estranha o movimento dos carros quando precisa ir a Canoas. O casal já conhecia a praia como veranistas eventuais. De épocas passadas, Debora compara que agora há muito mercados de bairro que ficam abertos o ano todo.

Público mais exigente puxa melhorias de serviços e lazer

Mais bares, cafés e restaurantes, farmácias e mercados, academias e salões de beleza, lavagem de veículos e lojas de materiais de construção, casa e decoração, não apenas centrais mas distribuídos pelos bairros, compõem a transformação do cenário do Litoral Norte nos últimos anos. Ainda que o agito excepcional do veraneio se atenue de abril a novembro, regiões como de Capão da Canoa e Torres estão cada vez mais distantes da ideia de que a praia "morre" no outono-inverno."Aqui tem tudo do que precisamos", garante Ana Laura Nunes, 33 anos.

Desde a enchente do ano passado, ela e o namorado, Felipe Christofoli, 36 anos, passam grandes períodos em Torres, fugindo da correria da Capital e aproveitando que ambos podem trabalhar remotamente, de qualquer lugar. A tranquilidade, a segurança de poder passear a pé mesmo à noite e a conveniência de que tudo fica aberto o ano todo estão pesando para a escolha de ficar mais tempo no Litoral do que em Porto Alegre.

"Acabamos gostando bastante desse modo de vida menos caótico. A gente já conversa sobre fazer essa mudança efetiva. Eu imagino que, em algum momento, no futuro, isso vai se efetivar. Cada vez que voltamos para Porto Alegre, a gente estranha e acha pior do que antes", conta ela, que dá aulas de inglês online.

Um dos lugares preferido do casal é a orla. "Está cheia de restaurantes e, mesmo agora, com a chegada do frio, tem movimento direto", garante ela. Desde o veraneio passado, a orla do Mampituba revitalizada alavanca a economia de Torres. Perto dali, a rede de restaurantes Di Paolo prepara para o outubro a inauguração da primeira unidade do grupo no litoral laúcho. Com um investimento de aproximadamente R$ 5 milhões, serão 900 metros quadrados de área construída, com capacidade para acomodar até 260 clientes em dois andares o ano inteiro. De acordo com o fundador do Di Paolo, Paulo Geremia, a decisão de se instalar na praia tem relação com o crescimento da cidade e o seu potencial turístico. Vicente Geremia, sócio da unidade e, ele próprio veranista local há mais de 20 anos, completa: "O número de moradores está aumentando significativamente.

Abrir a primeira loja do litoral leva em conta o crescimento local, diz Geremia | Manoel Petry/Divulgação/JC

Abrir a primeira loja do litoral leva em conta o crescimento local, diz Geremia Manoel Petry/Divulgação/JC

Além do crescimento populacional e dos investimentos em infraestrutura, Torres está se tornando um polo turístico e de eventos durante o ano inteiro. O aumento de grandes empreendimentos, como supermercados e condomínios, reforça essa percepção, além da forte demanda por serviços de qualidade".

Presidente do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Litoral Norte, Ivone Ferraz confirma o acréscimo no número de moradores, em especial pessoas que trabalham remotamente, desde a pandemia. "Muitos restaurantes que antes fechavam de segunda a quarta ou a quinta, ou até mesmo em toda baixa temporada, hoje mantêm as portas abertas para poder atender essa demanda. Hoje a gente vê as pizzarias lotadas nas quartas e quintas", comenta ela.

Morador de Capão da Canoa há 20 anos, o servidor público e síndico profissional Leonardo Meira observa que os novos moradores das praias, desde a pandemia, imprimiram outro padrão de vida, fazendo surgir novos serviços: "Aumentou muito o ramo de farmácias, por exemplo. Mercados também, que vieram de Caxias do Sul, de Lajeado e os próprios estabelecimentos locais incrementaram o atendimento. Salões de beleza, lavagem de veículos, redes de materiais de construção, corretores de imóveis, tem muito mais agora, funcionando a pleno".

Com 33 unidades em todo o Litoral, a Panvel é uma das redes que incrementou serviços. Além do Panvel Clinic, com soluções de exames rápidos e vacinas, investiu em logística. Lançou o check-in for delivery, modalidade que habilita o entregador para acessar os condomínios pela cancela de proprietários por meio de reconhecimento facial. "A ampliação de serviços em saúde, bem-estar e beleza é uma resposta ao potencial econômico trazido especialmente pela expansão imobiliária que a região vem recebendo", explica Roberto Coimbra, diretor executivo de operações do grupo.

As Farmácias São João também investiram na região. No final do ano passado, inaugurou novas unidades em Nova Tramandaí e em Tramandaí, além de mudar de endereço no Balneário Pinhal, abrindo uma loja em esquina central da praia, muito mais ampla, com estacionamento exclusivo e um repertório maior de itens à venda, incluindo dermo-cosméticos, higiene, beleza, linha pet e bazar. Bem ao lado, as Lojas Colombo também abriram as portas este ano.

* Loraine Luz, especial para o JC

Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso.

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