A operação no Rio de Janeiro que resultou em ao menos 121 mortos leva a direita, na figura do governador Cláudio Castro (PL), e a esquerda, representada pelo presidente Lula (PT), a disputarem perspectivas sobre a segurança pública no cenário que antecipou o debate eleitoral de 2026, segundo cientistas políticos ouvidos pela Folha.
A ação policial mais letal da história do Rio, a cargo do governo estadual, ocorreu em um momento em que a gestão federal petista tentava colar sua imagem em medidas para a área, mas com proposta de combate à criminalidade a partir de frente não violenta, a exemplo da operação Carbono Oculto, contra esquema de fraudes e lavagem de dinheiro, e de mudanças na legislação, como a PEC da Segurança Pública.
Na outra ponta, a ação de Castro, batizada de "Contenção", reforça a aposta de setores da direita para capitalizar eleitoralmente em cima de uma fórmula que atrai parte da população —com a mensagem de polícia nas ruas, mesmo que com condutas violentas, e de que "bandido bom é bandido morto".
O embate eleitoral ficou explicitado, segundo os especialistas, quando Castro disse atuar sozinho no combate ao crime e falou em falta de apoio do governo Lula, gerando reação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
Para Beto Vasques, professor de comunicação política da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e diretor de relações institucionais do Instituto Democracia em Xeque, esse tipo de operação, segundo ele com "viés fortemente eleitoreiro", costuma gerar ativo político positivo frente a uma população preocupada com a violência em cenário no qual esquerda e direita patinam para resolver os problemas.
Vasques lembra que Castro agiu de maneira similar em período anterior às eleições de 2022, com operação policial que deixou 28 mortos no Jacarezinho, em maio de 2021, e 23 mortos na Vila Cruzeiro, em maio de 2022.
Particularidades da ação desta terça, entretanto, podem fazer com que o tiro saia pela culatra, na avaliação do especialista: a alta letalidade e o discurso sobre "estar sozinho", que poderia ser interpretado por parte do eleitorado como fragilidade.
O momento político favorável a Lula é outro fator que poderia afetar a disputa de perspectivas sobre a segurança pública.
Nos últimos meses, os embates com o Congresso e com o governo Donald Trump levaram o governo petista a reforçar os discursos de atuação a favor dos mais pobres e pela soberania do país. A PEC da Segurança, que visa reforçar a atuação federal na área e que está sob análise no Congresso, também foi usada como bandeira em um tema tido como calcanhar de Aquiles na esquerda.
Enquanto isso, a crise do metanol e o assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, colocaram sob pressão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Nesse cenário, afirma o cientista político e especialista em marketing eleitoral Elias Tavares, retomar a pauta da segurança é uma oportunidade para a direita, sendo um "ativo importante para qualquer gestor público".
"É uma pauta interessante para a direita, que poderia sair um pouco da história da anistia [ao ex-presidente Jair Bolsonaro] e começar a focar na segurança, que custa caro para esse campo político. A polarização atual, de certa forma, nacionaliza o debate, que poderia se restringir ao Rio de Janeiro."
Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), interpreta a operação de Castro como tentativa de tirar do limbo seu campo político e, principalmente, a própria imagem do governador, que pode buscar uma candidatura ao Senado em 2026.
Para ele, a ação abre espaço para uma disputa de narrativa polarizada pelos dois campos políticos, com a tentativa da gestão Lula de se associar à operação na Faria Lima contra as fintechs e de Castro com uma política de segurança de combate direto e "entrando nas favelas".
Trata-se de um discurso já explorado por Guilherme Boulos (PSOL) ao tomar posse como ministro da Secretaria-Geral da Presidência. "Um presidente que sabe que a cabeça do crime organizado desse país não está num barraco de uma favela. Muitas vezes, está na lavagem de dinheiro lá na [avenida] Faria Lima, como nós vimos na operação Carbono Oculto, da Polícia Federal", afirmou.

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