Delegado titular do 36º Distrito Policial (Vila Mariana), Marcelo Palhares afirmou que jamais seria conivente com tortura e violência por parte da polícia.
A delegacia que ele comanda funciona no endereço em que se instalou o DOI-Codi paulistano, principal centro de tortura e repressão a opositores da ditadura. Entre os mortos após tortura no local, está o jornalista Vladimir Herzog.
Fundado como Oban (Operação Bandeirante) em 1969 em caráter experimental e depois rebatizado com a sigla para Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi foi o órgão de inteligência e repressão da ditadura, encabeçado pelo Exército e que também reunia polícias.
Até 1974, dezenas de presos políticos foram mortos no local e milhares foram torturados. Hoje, a delegacia divide espaço com prédios desativados do complexo, que abrigam visitas educativas e escavações arqueológicas, numa parte do terreno que pode virar um memorial.
Palhares conversou com a Folha na tarde da última quinta-feira (23), dois dias antes de se completarem 50 anos da morte de Herzog. A reportagem não marcou a entrevista. Chegou de supetão ao local e pediu para falar com o delegado, que de pronto recebeu o repórter.
O titular do 36º DP se esquivou de comentar o episódio de Herzog: "Eu era criança naquela época [tem hoje 60 anos]. Tenho que me ater ao meu trabalho: não sou historiador, sou delegado de polícia".
Em outro momento da entrevista, completou: "Claro que conheço a história, mas não posso compactuar com violência, com métodos como tortura. Não posso ser conivente com isso jamais".
Palhares exaltou o trabalho da Polícia Civil de São Paulo. "É uma das mais bem estruturadas do mundo, com um ótimo aparato tecnológico. Se você tem isso, para que violência? Só se deve usá-la em resposta, quando vem de lá para cá, do criminoso."
Indagado sobre a alta letalidade policial da PM de São Paulo, o delegado respondeu: "Falo pela Polícia Civil".
Sobre a ação do Ministério Público para transformar o complexo num memorial, Palhares defendeu a manutenção da delegacia no local. Repetiu seguidas vezes na entrevista a formulação: "Pessoas de bem gostam de delegacia, quem tem medo de delegacia é bandido".
A princípio, um acordo entre o Ministério Público e o Governo de São Paulo incluiria a cessão dos outros prédios do complexo para o memorial, e a delegacia continuaria a funcionar normalmente no local.
Palhares disse que a convivência com pesquisadores ligados a direitos humanos que trabalham no complexo "não atrapalha em nada; mantemos uma postura de respeito e eles também".
Pesquisadoras que atuam no local disseram o mesmo sobre a boa convivência. No caso de Palhares, um sinal dessa harmonia se fez notar em uma xícara com a logomarca do Núcleo Memória –organização que coordena visitas educativas ao ex-DOI-Codi– na mesa do delegado.
O 36º DP passou por algumas reformas desde o final do século passado. Assim como em outros distritos, hoje não há mais carceragem no local. "Nem parece delegacia que aparece em novela. Não é desagradável, não tem cela. Até cheiro de delegacia era ruim, mas isso não existe mais", disse Palhares.

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