Desde 2007, a China adota uma série de políticas para incentivar o consumo da população. O objetivo é tornar o mercado interno um importante motor de crescimento econômico, justamente para evitar choques externos.
Os planos, no entanto, não tiveram muito sucesso até agora. Dados oficiais mostram que o consumo total dos lares representa menos de 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, cerca de 20 pontos percentuais (p.p.) abaixo da média mundial.
Para especialistas ouvidos pelo g1, o "tarifaço" promovido por Donald Trump — que resultou na recente escalada de taxas entre os países — deverá dificultar ainda mais o cenário, indo na contramão do que busca Pequim, que já vinha enfrentando baixos índices após da pandemia de Covid-19.
Entenda nesta reportagem:
- O que é a política de consumo interno da China?
- Quais as medidas mais recentes adotadas?
- Por que o "tarifaço" pode prejudicar o avanço do consumo?
- Produção excedente buscará outros mercados — incluindo o Brasil

EUA: tarifas sobre produtos da China agora são de 145%
O que é a política de consumo interno da China?
Há quase duas décadas, a China aumentou os esforços para incentivar que a população consuma no país, seja com a compra de carros, imóveis, eletrodomésticos ou a contratação de serviços.
Desde então, o objetivo do país é tornar o consumo interno a principal força motriz do crescimento econômico, reduzindo a dependência das exportações. O professor destaca, no entanto, que se trata de um processo lento e que o gigante asiático ainda não obteve sucesso nessa empreitada.
"Isso não significa que o chinês não consome. Ele consome muito, mas produz muito mais", acrescenta Dumas. "Por isso, a China tem esse superávit nas contas externas [ou seja, recebe mais com exportações do que gasta com importações]."
Quais as medidas mais recentes adotadas?
Durante o anúncio, o governo chinês afirmou que as ações visam "impulsionar vigorosamente o consumo, expandir a demanda interna em diversas frentes e reduzir encargos".
Em linhas gerais, o conjunto de medidas propõe:
- o aumento de renda e aplicação de reformas habitacionais;
- medidas para estabilizar o mercado de ações — com detalhes ainda a serem divulgados;
- um sistema de subsídios para cuidados infantis;
- promoção de emprego flexível e ampliação de serviços como clínicas pediátricas noturnas;
- funcionamento de serviços de cuidados infantis comunitários;
- ampliação de direitos dos trabalhadores, incluindo ampliação de férias anuais remuneradas e a criação de feriados curtos;
- aumento dos subsídios a pensões básicas para residentes urbanos e rurais;
- e a expansão do turismo, com afrouxamento na restrição a vistos para visitar o país.
O plano também surge após o impacto recente causado pela pandemia de Covid-19 e pela crise imobiliária que atingiu o país, fatores que reduziram o ímpeto das famílias ao consumo.
A professora Carolina Moehlecke, coordenadora do mestrado de Relações Internacionais da FGV, explica que a medida é adotada principalmente como uma forma de aliviar o bolso das famílias.
José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, destaca que o empenho da China em melhorar o consumo também tem passado pelo fortalecimento da classe média.
"A grande estratégia da China é focar cada vez mais nesse consumo — e estamos falando de um mercado consumidor de mais de um bilhão de pessoas — para tentar depender cada vez menos de exportações do cenário global para poder crescer", acrescenta Pimenta.
Por que o 'tarifaço' pode prejudicar o avanço do consumo?
Os especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que as tarifas devem, pelo menos no curto prazo, ser uma pedra no sapato para a China em seus planos para alavancar o consumo interno.
"Isso vai impactar na renda da empresa, vai refletir no seu salário e você vai ter menos renda disponível para consumir", exemplifica.
A especialista lembra que a China já busca outros mercados para exportação, o que poderia amenizar esse tipo de prejuízo. Ela reforça, porém, que os receios de uma recessão também podem prejudicar as companhias e, consequentemente, os salários no país.
Dumas, do Insper, acredita que o impacto será negativo já no curto prazo. "Se a gente esperava um crescimento de 5% para o país, vamos esperar um crescimento de até 4% este ano."
O professor defende que a China adote políticas mais eficientes de incentivo ao consumo, com foco principalmente no aumento salarial e em um maior processo de urbanização.
Pimenta, da BMJ Consultoria, acredita que o "tarifaço" trará mais problemas para o mercado consumidor norte-americano, devido ao potencial inflacionário da medida.
Produção excedente buscará outros mercados — incluindo o Brasil
Dumas destaca que as movimentações da China diante do tarifaço de Trump também poderão prejudicar a indústria brasileira.
O g1 já mostrou, nos primeiros movimentos do tarifaço, que uma escalada da guerra comercial aumentaria a presença de produtos chineses no mundo todo. No Brasil, por exemplo, a China respondeu por 24,2% das importações do país em 2024.
Por um lado, uma maior entrada de itens chineses por aqui poderia se refletir, no curto prazo, na diminuição de preços aos consumidores.
Por outro, o movimento preocupa a indústria nacional, que será obrigada a baixar preços para se manter competitiva — em um cenário que pode afetar lucros e, possivelmente, vagas de emprego.

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6 meses atrás
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