A ação ocorre em um momento em que os EUA buscam negociações mais vantajosas com os países afetados pelo tarifaço imposto por Trump no início de abril. Embora as taxas tenham sido parcialmente suspensas, elas serão retomadas integralmente em 8 de julho — e têm servido como ferramenta do presidente na tentativa de firmar acordos mais favoráveis com outras nações.
Donald Trump na US Steel Corporation–Irvin Works em West Mifflin, Pensilvânia. — Foto: REUTERS/Leah Millis
A aplicação das taxas atingiu diretamente o setor siderúrgico de grandes parceiros comerciais dos EUA, como Canadá e México. O Brasil, segundo maior fornecedor de aço do país, também foi impactado.
Especialistas ouvidos pelo g1 apontam que uma das principais consequências das tarifas é a redução das exportações para os EUA. Além disso, o cenário impõe novos desafios ao setor siderúrgico, que pode ser forçado a redirecionar suas vendas ou, no longo prazo, reduzir a produção.
Para as empresas com fábricas no Brasil, os efeitos variam. De um lado, estão as companhias com forte atuação no mercado externo, que tendem a ser mais prejudicadas pela queda nas exportações.
De outro, estão aquelas com foco maior no mercado interno, que sentem menos o impacto direto. No entanto, essas empresas enfrentam o desafio de lidar com o possível aumento da oferta de produtos no mercado doméstico — o que pode pressionar os preços e reduzir as margens de lucro.
Procurado pelo g1 para comentar a nova medida, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, não se pronunciou. Em nota publicada em março, quando passou a valer a taxa de 25%, a entidade disse estar confiante no diálogo entre os governos brasileiro e norte-americano. (leia abaixo)
Entenda nesta reportagem:

'Tarifaço' de Trump: os impactos das taxas sobre aço e alumínio para o Brasil
O Brasil é, em volume, o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, conforme dados do Departamento de Comércio norte-americano. Ao todo, foram 4,1 milhões de toneladas em exportações para o país em 2024.
Os números ficam atrás apenas do Canadá, responsável por 6 milhões de toneladas ao mercado norte-americano. Em terceiro lugar, vem o México, com o envio de 3,2 milhões de toneladas.
Ao todo, cerca de 25% do aço utilizado nas indústrias dos EUA é importado. No caso do alumínio, cujo principal exportador para o país também é o Canadá, essa parcela é de 50%.
José Luiz Pimenta, especialista em comércio internacional e diretor da BMJ Consultoria, explica que os EUA são grandes consumidores de aço e alumínio no cenário global — insumos importantes para a produção de automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, construção civil, entre outros setores.
Segundo Pimenta, o cenário exige que o Brasil diversifique os destinos dos produtos, buscando mercados em outros países — tarefa difícil, já que a concorrência esbarra na China, uma grande exportadora. Outra alternativa seria tentar vender o excedente no próprio mercado nacional.
Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e professora da UERJ, acredita que, apesar da concorrência, parte das exportações podem até ser absorvidas pelo gigante asiático.
Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o cenário de queda nas exportações para os EUA também pode, em um segundo momento, prejudicar o mercado de trabalho na siderurgia brasileira.
Trabalhador da indústria — Foto: Reuters/Alexandre Mota
Como as taxas atingem as empresas
Os impactos das tarifas de Trump nas empresas do país foram avaliados em relatório do Itaú BBA, no início de março. Segundo o banco, empresas exportadoras não listadas na bolsa de valores brasileira — que representam mais de 80% das vendas de aço para fora do país — serão as que mais sentem os efeitos negativos dessas medidas.
É o caso de multinacionais com operação no Brasil, como a ArcelorMittal e a Ternium, indica o Itaú. As companhias produzem placas de aço, que são compradas em grande escala pelos EUA e processadas para uso no mercado doméstico. Diante das taxas, os fluxos podem diminuir, afetando essas (e outras) empresas.
Em nota publicada após o anúncio de tarifas de 25% por Trump, o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, informou ter recebido "com surpresa" a decisão do governo dos EUA.
Em março, o instituto disse estar confiante "na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os EUA nas bases acordadas em 2018", ano em que foi estabelecida uma cota de exportação.
As tarifas — e o vaivém — de Trump
O objetivo de Trump ao taxar produtos de outros países é priorizar e incentivar a indústria local. Ele espera que, com custos de importação mais altos, haja um aumento na procura e na produção de insumos nacionais.
Desde que assumiu seu segundo mandato, o republicano tem anunciado diversas taxas de importação. Trump prometeu, ainda durante a campanha eleitoral, tarifar uma série de produtos de outros países, em especial do Canadá e do México, seus principais parceiros comerciais.
Produtos da China e de alguns setores específicos, como no caso do aço, seguem enfrentando alíquotas mais altas.
Trump sofreu derrota após tribunal bloquear tarifaço anunciado no começo de abril — Foto: Carlos Barria/Reuters
Essa não é a primeira vez que Trump aplica taxas sobre aço e alumínio importados nos EUA. Durante seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, ele criou tarifas e outras restrições para a importação desses produtos — mas todas haviam sido posteriormente retiradas.
- Em março de 2018, os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio;
- O governo americano decidiu excluir Canadá e México, dois dos maiores fornecedores dos EUA, dessas tarifas e permitiu que outros países solicitassem inclusão em uma lista de exceção;
- O Brasil fez o pedido e foi aprovado. Os EUA criaram um esquema de cotas para as exportações brasileiras;
- O esquema de cotas permitia que produtos de aço ou alumínio semiacabados (usados como insumos para outras produções) fossem exportados até atingir um volume equivalente à média das exportações de 2015 a 2017;
- Para os produtos acabados, o limite de exportação era 30% menor que a média das exportações do mesmo período;
- Em agosto de 2018, as regras para a compra de aço foram flexibilizadas, permitindo que empresas americanas comprassem matéria-prima brasileira se comprovassem falta de oferta do produto nos EUA;
- Em dezembro de 2019, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular a compra de produtos brasileiros e prometeu reinstaurar as taxas de 25% e 10% sobre aço e alumínio, respectivamente;
- Dias depois, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou com Trump e que os EUA desistiram de sobretaxar o aço e alumínio brasileiros;
- Em agosto de 2020, Trump restringiu ainda mais as cotas de exportação dos produtos brasileiros para os EUA, reduzindo-as em cerca de 80%;
- Nos últimos meses do governo Trump, em outubro de 2020, o presidente decidiu elevar as tarifas sobre as chapas de alumínio importadas do Brasil de 15% para 145%, alegando que as empresas brasileiras estavam vendendo produtos abaixo do custo para eliminar a concorrência americana;
- Em julho de 2022, já sob o governo de Joe Biden, o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciaram que os EUA revogaram as medidas restritivas remanescentes da era Trump contra as exportações brasileiras.

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5 meses atrás
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