De Pequim*
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Soluções para a captura de CO2 desenvolvidas pela empresa JNG, que tem sede em Nanjing, na China, podem ser a resposta para reavivar uma antiga atividade desenvolvida no Rio Grande do Sul, que é a geração termelétrica a carvão, assim como para abrir uma nova frente de oportunidades, com a produção de fertilizantes. Com o objetivo de conferir de perto essa tecnologia, uma missão com integrantes do poder público e empresarial do Brasil estará no país asiático, entre os dias 10 e 16 de agosto.
Participam da comitiva o representante da JNG no Brasil, Giuliano Capeletti, integrantes dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, da Assembleia Legislativa gaúcha (deputado Paparico Bacchi - PL), da Âmbar Energia (companhia responsável pela usina a carvão Candiota 3), o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador, e o presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan.
Capeletti detalha que, na Ásia, o grupo acompanhará processos de dessulfurização e captura de CO2, através da amônia, que, além de mitigar as emissões de termelétricas a carvão, resulta ainda na produção de fertilizantes agrícolas como o sulfato e o bicarbonato de amônia.
O processo de dessulfurização com amônia é uma tecnologia consolidada. Porém, usar o CO2 para produzir o bicarbonato de amônia é uma proposta nova. A comitiva visitará localidades na China como Ningbo, Yinchuan e Nanjing e, dentro dessa logística, conhecerá plantas que operam com essas soluções. Capeletti lembra que outras missões semelhantes já foram feitas anteriormente, uma delas contando com a participação de representantes da companhia Diamante Energia, que controla o complexo termelétrico de Jorge Lacerda, em Santa Catarina.
Segurança energética e alimentar é um dos atrativos da solução
Olhar para a indústria do carvão de uma forma diferente, além da simples geração de energia, conciliando pontos que são fundamentais como o fornecimento de energia e o agronegócio é uma forma defendida pelo presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS), Fernando Zancan, para garantir o futuro do uso desse mineral. "O grande problema é não ser relevante, então é preciso transformar o segmento em algo relevante para o País", argumenta o dirigente.
Zancan comenta que, assim como aumenta a segurança energética brasileira, principalmente quando os reservatórios das hidrelétricas estão baixos, a cadeia carbonífera também pode contribuir com a questão alimentar. Ele alerta que qualquer alteração no cenário geopolítico mundial pode atingir duramente o setor do agronegócio nacional e elevar custos. "Ou ficar refém no processo, que é o caso da importação de fertilizantes nitrogenados", aponta o dirigente.
Ele lembra que 17% da ureia (insumo vinculado à produção agrícola) consumida pelo Brasil é proveniente do Irã, que constantemente é ameaçado por conflitos bélicos. O representante da ABCS reforça que o carvão pode contribuir com a produção de fertilizantes de diversas formas, sendo uma delas a que será observada durante a viagem à China, que é através da tecnologia que mitiga e aproveita as emissões de enxofre e CO2 das termelétricas.
Zancan frisa que essa ação é uma alternativa à opção de apenas estocar, embaixo da terra, o dióxido de carbono oriundo das usinas. Ou seja, é uma iniciativa que agrega valor ao processo. Segundo ele, se trata de uma medida na linha da chamada Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (em inglês, Carbon Capture, Utilisation, and Storage - CCUS), um conjunto de tecnologias que visam reduzir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera.
O CCUS, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), tem sido considerado uma tecnologia complementar indispensável para atingir as metas de emissões líquidas zero (Net Zero) em 2050, auxiliando no desafio da mudança da matriz energética. Ele pode ser utilizado para compensar emissões não evitadas no desenvolvimento da atividade econômica, em complementação aos esforços de eficiência energética e mitigação de emissões.
Especialmente para o Rio Grande do Sul, o representante da ABCS diz que se trata de uma questão importante, pelo fato de o Estado ser um relevante importador de fertilizantes nitrogenados. Ele recorda que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já estuda na Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC), em Criciúma, a aplicação do bicarbonato de amônia em terras brasileiras.
De acordo com Zancan, um passo futuro dessa proposta é produzir uma espécie de "drágea" desse fertilizante e com isso aprimorar o uso do produto. "Vamos ter que provar para o agricultor que isso é bom, é melhor, mais barato e mais eficiente. Não adianta fazer um produto que o nosso agricultor não vai usar", antecipa o representante da ABCS. Provando-se economicamente viável, o emprego da tecnologia de captura de CO2 no Brasil vai possibilitar reduzir as emissões de gases de efeito estufa de forma muito rápida no parque termelétrico nacional, finaliza Zancan.
Estado tem potencial para aproveitamento de fertilizante oriundos do processo
No caso específico do Rio Grande do Sul, o representante da JNG no Brasil, Giuliano Capeletti, considera que o Estado tem um ótimo potencial para aproveitar os fertilizantes que seriam originados da captura de CO2. Além de contar atualmente com duas usinas a carvão, Candiota 3 e Pampa Sul, as condições logísticas são um diferencial competitivo. "A gente teria chance não somente para produzir para o Brasil, mas para o Mercosul", comenta Capeletti.
Já o presidente da Frente Parlamentar da Mineração e do Polo Carboquímico da Região da Campanha, deputado estadual Paparico Bacchi, manifesta preocupação com a economia do Rio Grande do Sul e vê na possibilidade de reduzir os impactos da geração de energia a carvão, aliando a atividade com a produção de fertilizantes, uma forma de fortalecimento do Estado.
"Observamos hoje que há um desaquecimento da economia gaúcha", alerta o deputado.
Para Bacchi, um dos caminhos para o Estado é investir no setor de mineração. Ele recorda que quase 90% das reservas de carvão do Brasil encontram-se em solo gaúcho.
Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Mineração e do Polo Carboquímico da Região da Campanha, contar com um fornecimento local de fertilizantes, a partir da cadeia carbonífera, aumentaria a competitividade do produtor gaúcho.
Além da mineração, ele frisa que o setor primário, através da agricultura, é outro segmento que será essencial para promover a melhoria econômica do Estado. Bacchi salienta que as informações que serão obtidas durante a missão também contribuirão para abrir um diálogo para viabilizar o aproveitamento do carvão gaúcho.
Ele acrescenta que é preciso que essa questão seja inserida dentro da pauta do governo do Estado. O deputado revela que uma meta, após a volta da viagem, é tratar da criação de um consórcio de municípios, que tenham proximidade com a produção carbonífera, para tentar buscar recursos para, entre outras ações, viabilizar a construção de uma planta de fabricação de fertilizantes a partir do mineral.
* O repórter viajou a convite da empresa JNG
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