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Trump contra Estado da Palestina e Gaza no centro das atenções: o que esperar do 1º dia de discursos na Assembleia Geral da ONU

Na edição deste ano, a expectativa é que várias lideranças internacionais citem a crise humanitária na Faixa de Gaza em seus discursos. O futuro do território palestino e o fim do conflito que já dura quase dois anos deve estar no centro das discussões.

Na segunda-feira (22), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Trump reafirmará a insatisfação com a decisão de vários países de reconhecer a Palestina. Segundo ela, ele terá reuniões sobre o tema com líderes de Catar, Arábia Saudita, Indonésia, Turquia, Paquistão, Egito, Emirados Árabes Unidos e Jordânia.

"O presidente deixou bem claro que discorda dessa decisão. Ele acredita que é uma recompensa ao Hamas. Para ele, essas decisões são apenas mais conversa e pouca ação de alguns de nossos amigos e aliados. Acho que vocês o ouvirão falar sobre isso amanhã", declarou.

Leavitt afirmou ainda que o presidente “abordará como as instituições globalistas deterioraram significativamente a ordem mundial” e defenderá “a renovação da força americana em todo o mundo”.

De acordo com uma autoridade americana ouvida pelo jornal “The Washington Post”, Trump deve repetir a fórmula de 2018 e apresentar sucessos de seus primeiros meses no governo. Por outro lado, ele também deve sugerir ações para conter a migração global, como um novo sistema que limita o asilo.

Trump chega atrasado à assembleia da ONU e seu discurso provoca risadas

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Duas fontes do governo americano disseram ao site “Politico” que Trump pretende “deixar uma marca” e apresentar sua filosofia para lidar com o mundo.

Ainda segundo a reportagem, um alto funcionário europeu, sob anonimato, avaliou que “os Estados Unidos se tornaram mais indispensáveis para seus aliados tradicionais do que em qualquer outro momento do passado recente”.

“Ninguém acha mais engraçado e nenhum líder acredita que pode controlar Trump. Eles ainda tentam, mas ele demonstra uma imprevisibilidade desta vez que nenhum elogio ou presente vai mudar”, disse o europeu.

Além de Estados Unidos e Brasil, outros 30 países devem discursar nesta terça-feira. Dentre eles está França e Portugal, que reconheceram a Palestina nesta semana.

O que será tratado na Assembleia Geral da ONU

Governo Trump restringe vistos para ONU, Brasil protesta

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💡Multilateralismo é a cooperação entre vários países para resolver problemas comuns ou tomar decisões internacionais. Em vez de um país agir sozinho (unilateralismo) ou de dois países negociarem diretamente entre si (bilateralismo), o multilateralismo envolve a criação de regras e acordos coletivos, geralmente em organismos internacionais como a ONU — que sedia a Assembleia Geral —, a Organização Mundial do Comércio (OMC) ou blocos como o Mercosul.

Cada início de uma sessão da assembleia tem um tema. O de 2025 é "Melhores juntos: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos". Os líderes mundiais podem se referir brevemente ao tema antes de passar para o tópico que desejarem.

Nesta reportagem você também vai ver:

1. Como funciona a Assembleia Geral da ONU?

Membros da Assembleia Geral das Nações Unidas votam sobre a questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, na sede da ONU em Nova York, EUA, em 12 de setembro de 2025. — Foto: Reuters/Eduardo Munoz

A Assembleia Geral da ONU é um encontro anual que acontece entre os principais governantes e autoridades dos 193 Estados que fazem parte da organização. Vários eventos acontecem durante a reunião — que neste ano tem seis dias de trabalhos.

O principal encontro é chamado de "Debate Geral", que começa nesta terça-feira. Apesar do nome, não existe de fato um debate entre as nações. Cada país tem o direito de fazer um discurso para apresentar seu ponto de vista sobre o tema do encontro e a situação global.

As Nações Unidas foram formadas em 1945 com 51 membros originais e desde então cresceram para 193 membros.

Líderes de dois Estados observadores não-membros – conhecidos na ONU como Santa Sé e Estado da Palestina – e uma entidade observadora com condição especial, a União Europeia, também podem falar.

2. Como funcionam os discursos e qual é a ordem?

É tradição o Brasil ser sempre o primeiro Estado-membro a falar. Isso ocorre porque, nos primeiros anos do organismo mundial, o Brasil se prontificou a falar primeiro quando outros países estavam relutantes em fazê-lo, dizem funcionários da ONU.

Como anfitrião da sede da ONU em Nova York, os Estados Unidos são o segundo país a discursar na Assembleia Geral.

A partir daí, a lista é baseada na hierarquia e, geralmente, por ordem de chegada. Os chefes de Estado falam primeiro, seguidos pelos vice-chefes de Estado e príncipes herdeiros, chefes de governo, ministros e chefes de baixo escalão de uma delegação.

3. Por quanto tempo os líderes mundiais podem discursar?

Os líderes são solicitados a manter um limite de tempo voluntário de 15 minutos.

De acordo com registros da ONU, um dos discursos mais longos feitos durante a abertura de uma Assembleia Geral foi o do líder cubano Fidel Castro, em 1960, que falou por cerca de quatro horas e meia.

O líder líbio Muammar Gaddafi falou por mais de uma hora e meia em 2009.

4. Sobre o que o presidente Lula vai falar?

Presidente Lula discursa na Assembleia Geral da ONU em 2024 — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Mesmo sendo finalizado perto do evento, o discurso deverá reforçar as posições de Lula e enviar recados diplomáticos a Donald Trump.

O presidente se posicionará contra a "guerra tarifária" de Trump, mas sem o atacar diretamente.

Na questão ambiental, Lula cobrará mais empenho na preservação e na transição energética.

O discurso também defenderá a democracia, as boas relações entre países e a reforma de organismos internacionais como a ONU.

Lula deve abordar ainda as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Para a Ucrânia, ele defende negociações entre Rússia e Ucrânia.

Já sobre Gaza, Lula será crítico à intensidade da resposta de Israel, que ele entende como uma tentativa de erradicar os palestinos, e apoiará a criação de um Estado palestino capaz de conviver com Israel.

5. Sobre o que os demais países vão debater?

Outros tópicos que os líderes provavelmente abordarão incluem:

Os líderes estão se reunindo à medida que a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza se aproxima de dois anos e uma crise humanitária piora no enclave palestino, onde um monitor global alertou que a fome tomou conta e provavelmente se espalhará até o final do mês.

Netanyahu é procurado pelo Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza, que Israel nega.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, não comparecerá – os EUA, um forte aliado israelense, disseram que não lhe darão visto. Ele aparecerá por vídeo.

  • Reconhecimento do Estado Palestino

A lista cresceu depois da ofensiva israelense em Gaza, iniciada em 2023, depois que terroristas do Hamas invadiram o território israelense e mataram mais de 1.200 pessoas e fizeram centenas de reféns. A ofensiva de Israel matou cerca de 68 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

França e Arábia Saudita liderarão reuniões para promover a solução de dois estados (Israel e Palestina), ideia que o primeiro-ministro israelense rejeita.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tentará reforçar o apoio global a Kiev enquanto Trump tenta mediar o fim da guerra mais de três anos depois que a Rússia invadiu seu vizinho.

Ele deve discursar na assembleia na quarta-feira (24), enquanto o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, falará no sábado (27).

O Conselho de Segurança da ONU deve realizar uma reunião de alto nível sobre a Ucrânia na próxima semana.

Todos os olhos estarão voltados para os EUA – no Conselho e durante o discurso de Trump na Assembleia Geral – para ver se Washington anuncia quaisquer medidas, como sanções, para tentar fazer com que o presidente russo, Vladimir Putin, negocie com Zelensky.

  • Tensões entre EUA e Venezuela

Enquanto os Estados Unidos aumentavam sua força naval no sul do Caribe e nas águas próximas no final do mês passado, a Venezuela reclamou ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

Desde então, foram relatados dois ataques mortais realizados por militares dos EUA contra supostos navios do cartel de drogas venezuelano em águas internacionais.

A tensão será provavelmente elevada pelo ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, que deve discursar na Assembleia Geral no sábado. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, alegou repetidamente que os EUA esperam tirá-lo do poder.

6. O que acontece se um país for criticado por outro?

Críticas mútuas são comuns nos discursos do Debate Geral. Caso algum Estado se sinta ofendido por algum orador, ele pode solicitar um direito de resposta.

O protocolo determina que o Estado que quiser dar uma resposta precisa apresentar a solicitação formalmente por escrito, em uma carta. O texto é repassado entre todos os membros da Assembleia Geral.

Até dois direitos de resposta podem ser concedidos. O primeiro, tem duração de até 10 minutos, enquanto o segundo tem 5 minutos. O discurso de resposta é feito sempre ao fim do dia.

Outra prática comum é a delegação criticada se retirar do local da assembleia em protesto. Israel e Irã costumam adotar essa medida enquanto o outro está discursando.

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