E eis que dos escombros daquilo que se costumava chamar de proletariado e, hoje, é tratado pelo nada lisonjeiro termo 'subemprego', surge uma reivindicação tão antiga quanto a CLT: a redução da jornada de trabalho. Quando se imaginava uma espécie de fim da história laboral, no qual atividades plataformizadas seriam a ocupação preferencial dos menos escolarizados, o pedido de socorro vindo de comerciários e prestadores de serviço submetidos à escala 6x1, que prevê apenas um dia de descanso na semana, comoveu uma deputada federal e pelo menos 200 de seus colegas, que assinaram uma petição levando o tema à discussão, – não sem antes uma generosa repercussão.
Bom sinal. Ótimo, aliás. E por vários motivos.
Primeiro, porque o reclamo é justo. Expedientes diários de 7 horas, quando acrescidos do tempo de deslocamento, nunca inferior a uma hora numa cidade de médio ou grande porte, tornam sofrido o cotidiano dos trabalhadores. Com um dia a menos para descansar e resolver questões práticas da casa e da família, fica difícil mesmo imaginar uma vida além do trabalho (VAT) – nome do movimento que nasceu nas redes sociais e deu impulso à campanha contra o 6X1.
Segundo, porque sob o manto da disponibilidade ininterrupta de produtos e serviços físicos e online, vigora toda uma economia da exploração do trabalho não-especializado, aquele que alterna a carteira assinada de baixo salário com os corres por conta própria. Tornar as vagas do setor terciário mais atraentes, com escalas convencionais, do tipo 5x2, ajuda a atrair mão de obra mais capacitada, aumenta a proteção social e diminui a informalização.
Finalmente, lembremos que, se por um lado o custo empregatício aumenta para os ramos submetidos a uma eventual nova regra, por outro oferece um dia a mais para parcela expressiva da população adquirir e desfrutar dos produtos e serviços que habitualmente vende e presta, reinjetando os recursos no setor. Ou o balconista da farmácia não pode ser cliente do fast food num domingo de folga?
As previsões apocalípticas do empresariado são praxe a cada direito reivindicado. E revelam mais do que preocupações de natureza econômica. Há, por trás delas, um mal disfarçado preconceito, uma estratégia de controle social: estender o domínio sobre o outro para além da relação de subordinação laboral, limitando-o a uma luta pela mera subsistência por meio da restrição de seu tempo livre, é também tolher-lhe a possibilidade de imaginar um destino diferente para si e para seus semelhantes. Não é apenas a elevação dos custos que incomoda parte dos patrões, e sim ter de ouvir de uma das líderes do VAT que "as pessoas não querem só sobreviver, querem desfrutar, ter seu carro, andar bonitas. Elas querem viver".
Ou seja, são como todos nós.
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