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Bradesco vê recuperação econômica do País e aposta no agro para 2026

O cenário econômico brasileiro está passando por um momento de transição, com expectativas de reequilíbrio em diversos setores. Apesar das altas taxas de juros e da desaceleração do crescimento, há sinais de que a economia pode navegar em águas mais serenas a partir de 2026, analisou o vice-presidente-executivo do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, durante evento na Casa do Jornal do Comércio na 48ª Expointer. Segundo ele, o tarifaço aplicado pelos EUA impactará setores como as exportações de máquinas agrícolas, mas poderá potencializar o consumo interno, compensando parte das perdas.

Jornal do Comércio - O PIB nacional cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, mostrando uma desaceleração em relação ao trimestre anterior. O que esse desempenho sinaliza?

José Ramos Rocha Neto - Esse número, se comparado ao primeiro trimestre, que teve uma expansão superior a 1%, demonstra um arrefecimento na atividade econômica. É um movimento natural dentro de uma política monetária com taxas de juros mais elevadas, que têm o objetivo de controlar a inflação. O grande temor do Banco Central é justamente o retorno da inflação, que é prejudicial para a economia, principalmente para as camadas mais vulneráveis da população. A boa notícia é que já estamos observando uma redução na inflação, o que pode, eventualmente, aliviar um pouco a pressão sobre a economia. A questão é como essa desaceleração continuará nos próximos trimestres.

JC-  Podemos chegar a um desempenho negativo? Há perspectiva de retomada no próximo ano?
 
Rocha Neto: A grande expectativa é que a economia chegue ao final de 2025 com um crescimento bem próximo de zero, sem, no entanto, entrar em território negativo. Isso indicaria o ponto mais baixo dessa desaceleração, sem causar danos irreparáveis à economia brasileira. A dúvida agora é como o Banco Central irá ajustar sua política monetária para garantir que a recuperação aconteça de forma gradual e sustentável.

JC -  Com as taxas de juros mais altas, como os bancos lidam com a concessão de crédito? Isso torna o processo mais difícil?

Rocha Neto - A taxa de juros elevada tem, sim, um impacto direto sobre a concessão de crédito. Por um lado, desestimula o consumo e o endividamento, pois as pessoas e empresas ficam mais cautelosas. No caso dos bancos, isso significa que, ao oferecer crédito, é preciso ser mais rigoroso na avaliação de riscos, já que os custos do financiamento são mais altos. Não é uma questão de "mais trabalho", mas de mais cautela, para garantir que o crédito seja concedido de forma responsável e dentro da capacidade de pagamento do cliente. Quando a demanda por crédito é alta, especialmente em tempos de incerteza, é fundamental agir de maneira estratégica, oferecendo linhas de crédito adequadas e com prazos que não comprometem a saúde financeira dos clientes.

JC -  Como o banco enxerga o impacto da atual taxa de juros no agronegócio brasileiro, especialmente no Rio Grande do Sul, onde o clima tem sido um fator de grande preocupação para os produtores?

Rocha Neto - Embora o clima no Rio Grande do Sul tenha sido um fator desafiador nos últimos anos, os sinais que estamos recebendo nesta edição da Expointer são mais positivos. Os volumes de produção de algumas das principais culturas estão melhores do que no mesmo período do ano passado. A situação climática impacta diretamente na demanda por crédito, claro. Se a produção diminui, a necessidade de financiamento pode ser mais cautelosa. Mas, por outro lado, quando o cenário melhora, as expectativas de crescimento voltam, e isso também reflete na procura por crédito. Mesmo com a alta taxa de juros, o Bradesco mantém linhas de crédito mais adequadas aos produtores, ajudando a reorganizar suas dívidas, oferecendo carência ou prazos mais flexíveis quando necessário.

JC - Quais são as perspectivas para a demanda por financiamento no setor agropecuário, considerando as dificuldades econômicas do setor?

Rocha Neto - Em momentos de dificuldades como os que vivemos recentemente, a procura por crédito tende a ser mais cautelosa. Se o produtor está enfrentando um clima adverso e uma produção menor, naturalmente ele terá menos capacidade de pagar uma dívida, o que limita o apetite por novos financiamentos. Porém, no Bradesco, nunca fechamos as portas para o agronegócio. Nossa linha de crédito sempre esteve disponível. Nos últimos dois anos, por exemplo, observamos uma expansão contínua nas carteiras de crédito do setor agropecuário. Mesmo nas regiões mais afetadas, como o Rio Grande do Sul, conseguimos manter a nossa presença e oferecer soluções que viabilizassem a continuidade das atividades dos produtores.

JC - O produtor está demandante por crédito?

Rocha Neto - Este ano, temos visto um ambiente mais positivo, com preços mais estáveis, margens melhores e volumes de produção em crescimento. Isso tem motivado mais agricultores a buscar financiamento, o que nos dá confiança em um cenário mais favorável para os próximos meses.

JC - O tarifaço imposto pelos Estados Unidos, que entrou em vigor em agosto, já está afetando o setor agropecuário brasileiro? Como os produtores podem enfrentar esse desafio?

Rocha Neto - Existem setores, como a indústria e algumas áreas do agro, que podem sentir os efeitos de uma diminuição nas exportações para os Estados Unidos. Por exemplo, fabricantes de máquinas e implementos agrícolas que exportavam para lá poderão enfrentar desafios se suas tarifas subirem. No entanto, o setor agrícola brasileiro tem mostrado uma grande capacidade de adaptação. Quando olhamos para as commodities, vemos uma realocação de mercados, o que tem minimizado as perdas. Além disso, o Brasil possui uma força no mercado interno que tem se mostrado resiliente. Parte dos produtos que antes iam para o exterior agora estão sendo absorvidos pelo consumo interno, o que ajuda a compensar as perdas nas exportações.

JC - Qual é o papel do mercado interno brasileiro nesse cenário de crise externa?

Rocha Neto- É sem dúvida, uma grande fortaleza do Brasil. A economia interna está se mostrando bastante robusta, o que nos dá um diferencial importante em tempos de desafios externos. O Brasil tem uma base de consumidores muito grande, o que ajuda a mitigar o impacto das tarifas e da instabilidade econômica global. Em muitos países, a dependência das exportações é muito maior, e eles acabam sofrendo muito mais com esse tipo de crise. O Brasil, por sua vez, tem mais flexibilidade para lidar com esses desafios. O setor agrícola, com sua relevância global, continua a se beneficiar de uma demanda forte tanto externamente quanto internamente. Esse dinamismo interno é crucial para a nossa recuperação econômica, especialmente em momentos de incerteza.

JC - Como o Bradesco está se preparando para os próximos desafios econômicos, especialmente com a previsão de queda nas taxas de juros?

Rocha Neto - A expectativa é de que 2026 seja um ano de ajustes, com um cenário econômico mais favorável se consolidando a partir de 2027. Quando as taxas de juros começarem a cair, isso deverá criar um ambiente mais propício para o crescimento. Os investimentos voltarão a ser mais atrativos, e muitas empresas que estavam adiando seus planos de expansão poderão retomar esses projetos. No setor agropecuário, por exemplo, um possível afrouxamento das taxas de juros deve estimular a compra de novos equipamentos e a expansão das operações. Estamos preparados para esse movimento, com uma estrutura robusta de crédito e uma presença constante junto aos nossos clientes. As expectativas para os próximos anos são positivas, e acreditamos que o Brasil tem condições de retomar o crescimento de maneira sustentada, com a economia voltando a crescer de forma sólida e consistente.

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