O Desfile dos Campeões – evento de abertura da 48ª Expointer –, marcado por manifestações, vaias e clima eleitoral antecipado, acabou ofuscando o anúncio de uma Medida Provisória do governo federal que destina R$ 12 bilhões para a renegociação das dívidas rurais. Embora o pacote tenha sido apresentado como um alívio para até 100 mil produtores, a tensão política tomou conta do evento.
O recurso, antecipado pelo Jornal do Comércio, permitirá que agricultores do Pronaf acessem até R$ 250 mil, com juros anuais de 6%, prazo de oito anos para pagamento e um ano de carência. Para produtores do Pronamp, o limite é de R$ 1,5 milhão, com juros de 8% ao ano. Os demais podem pleitear até R$ 3 milhões, com taxa anual de 10%.
Escalado para detalhar a MP, após a apresentação dos 136 animais campeões dos julgamentos e dos premiados da agricultura família, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, enfrentou vaias antes mesmo de iniciar seu discurso. “Antes do anúncio vêm vaias. Mas vaias são sinal da democracia”, afirmou. Ele ainda sugeriu que, se os atos antidemocráticos de 8 de janeiro tivessem prosperado, protestos como aquele não seriam possíveis.

Ministro Paulo Teixeira respondeu às vaias antes de detalhar a medida que injeta R$ 12 bilhões para refinanciar dívidas dos produtores rurais CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
Segundo Teixeira, os recursos atenderão 95% dos produtores do Pronaf e do Pronamp, além de 87% dos grandes produtores. Embora admita que a medida não resolva todos os problemas, o ministro destacou que ela representa o esforço possível neste momento. “Foi a medida capaz de caber neste momento econômico do país, com juros ‘negativos’ diante da conjuntura”, declarou.
Antes do início oficial da solenidade, 24 coroas de flores e balões pretos foram colocados na Pista Central do Parque de Exposições Assis Brasil, em homenagem a agricultores que teriam tirado a própria vida em decorrência do endividamento e da ausência de soluções para o setor. O tom pesado do evento ficou evidente desde então.
O secretário estadual da Agricultura, Edivilson Brum, foi o primeiro a falar. Pediu um minuto de silêncio pelas famílias enlutadas e declarou: “A Expointer vira palco de solidão, culpa, medo e desamparo. Cada dívida não paga e safra perdida é um golpe no produtor.” Mais adiante, reforçou que a mostra deve ser um espaço de esperança e de promoção de laços e renegociação.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também enfrentou protestos e esperou a redução dos apupos para iniciar sua fala. Manifestou solidariedade ao povo gaúcho e disse compreender as manifestações, mas pediu respeito: “Quando se perde o respeito, se perde a dignidade e a razão.”

Eduardo Leite apontou que houve tentativa de capturar politicamente o protesto legítimo de produtores rurais durante a abertura oficial da Expointer DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
O governador Eduardo Leite foi o principal alvo das centenas de manifestantes que ocuparam a arquibancada, munidos de faixas, apitos e palavras de ordem. Em seu discurso, subiu o tom e criticou o que classificou como “uma tentativa de capturar politicamente um movimento com reivindicações legítimas.”
Embora sem citar nominalmente, a crítica foi endereçada ao deputado federal Luciano Zucco (PL), apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro e nome forte da direita para a disputa ao Piratini em 2026. Zucco estava entre os mais ativos as manifestações, conforme mostra um vídeo publicado no Instagram por um dos participantes do ato.
Leite reagiu com ironia: “Não tem problema me vaiar. Eu era vereador em Pelotas. Tomei vaia e virei prefeito. Tomei vaia e virei governador. Tomei vaia e fui reeleito. Com vaia ou sem vaia, vou seguir em frente na minha carreira política.”
Antes da divulgação da MP, o governador havia criticado a falta de diálogo nas medidas federais, mas ponderou, no evento, que o anúncio representa um avanço. “Se considerado insuficiente, tentaremos melhorá-lo no Congresso Nacional.”
O governo gaúcho e lideranças do setor seguem empenhados na aprovação do Projeto de Lei 5.122/2023. O texto propõe usar os royalties do pré-sal para subsidiar a renegociação do passivo de longo prazo no campo.
Para os presidentes Gedeão Pereira (Farsul) e Carlos Joel da Silva (Fetag-RS), é necessário manter o diálogo com o governo federal em busca de mais recursos e melhores condições. “A gente pega o que vem. É melhor do que nada. Mas vamos seguir trabalhando”, declarou o líder ruralista. Já o dirigente da Fetag-RS lembrou que o setor pede ajuda há cinco anos e que a lentidão revela a ineficácia das medidas. “Isso passa por dois governos. Precisamos de ações definitivas. Se esse anúncio atender a um grupo, vale a pena — desde que não feche a porta para buscarmos uma solução para todos.”
Claudio Bier pede que vendas da Expointer não sejam divulgadas
Em um gesto inédito na história da Expointer, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Claudio Bier, solicitou ao governador Eduardo Leite que a totalização dos valores de vendas de máquinas durante a mostra não seja divulgada.
Segundo Bier, a descapitalização do campo chegou ao ponto de afetar significativamente os negócios da feira. Ele criticou o custo do crédito, com a Selic em 15% ao ano e financiamentos com juros entre 18% e 20%.
“O RS vive uma tempestade perfeita, com estiagens, perdas de safra e enchentes. Não conseguimos suportar juros tão altos. Não há atividade que comporte esses juros. A venda está completamente oprimida”, afirmou o dirigente.

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