O PT elegerá seu novo presidente no próximo dia 6 de julho. A disputa influenciará a relação do partido com o governo, e pode gerar fissuras no grupo dirigente cujo impacto de longo prazo é difícil de prever.
O PT já teve disputas presidenciais acirradíssimas, especialmente nos anos 1990, durante o difícil processo de moderação do partido. A eleição logo depois da crise do Mensalão, que abalou fortemente o grupo dirigente, também teve debates intensos. Mas a saída de parte da esquerda petista para formar o PSOL, bem como a virada pragmática do partido quando foi governo, tornou as eleições para a presidência do PT mais previsíveis.
O mais comum é que, após negociações mais ou menos difíceis, vença o candidato da CNB ("Construindo um Novo Brasil"), que, em suas diversas encarnações anteriores, dirigiu o PT desde os anos 1980, quase ininterruptamente. Voltaremos a esse "quase".
Esse ano o provável candidato da CNB é Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP). Edinho é um político pragmático que tem apoio de Lula, de Haddad, de Padilha, de Dirceu, e mesmo de alguns membros de outras tendências.
Entretanto, um grupo dissidente da CNB que inclui Gleisi Hoffman (PR), Jilmar Tatto (SP), José Guimarães (CE) e Washington Quaquá (RJ) se opõe à candidatura de Edinho.
Essa disputa não é entre moderados e radicais, como os grandes embates petistas dos anos 1990. Ninguém na esquerda petista se aproximaria de Quaquá, cujas alianças com a direita carioca o levaram a defender Domingos Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco.
A briga é por cargos na próxima gestão. Os dissidentes da CNB querem manter a tesouraria sob seu controle, mesmo se Edinho for eleito presidente. A tesouraria é responsável por distribuir o dinheiro do fundo partidário.
Como vimos na última coluna, a nomeação de Gleisi Hoffman como ministra foi uma tentativa de arrefecer esse conflito, que vem em hora difícil: a popularidade do governo é baixa, e o governo quer falar para fora, não para dentro.
Além disso, embora o conflito fundamental não seja ideológico, a divisão do grupo dirigente pode ter consequências imprevisíveis.
No último dia 12, o deputado Rui Falcão escreveu uma carta à militância petista sobre a disputa interna. Depois de fazer um apelo por uma virada à esquerda, concluiu assim: "A valentia, a generosidade e a integração de toda a militância é essencial, em mais essa hora da verdade".
"Hora da verdade" é o nome do manifesto de 1993 que batizou um racha da encarnação original da CNB, a Articulação. O racha foi liderado pelo próprio Rui Falcão e permitiu que a esquerda petista ganhasse a direção do PT pela primeira vez naquele ano. Não deu certo. Enquanto o PT se fechava, a direita se aproximava do centro aliando-se ao PSDB, tudo isso enquanto se aproximava a eleição do Plano Real.
Em 2025, a esquerda do PT não vai ganhar a presidência do partido. Mas pode apoiar uma das facções do grupo dirigente em troca de concessões que limitem a moderação de Edinho.
Seria uma pena. A eleição do PT é uma boa oportunidade para o partido retomar seu pragmatismo, se reconciliar com o governo e mostrar que está disposto a conversar com o resto da sociedade brasileira.
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