"O seu cadastro não foi aprovado. Considere assim, beleza? A gente não precisa criar confusão. Não fizemos nada de errado contigo. Você não precisa agir dessa forma, que a gente já sabe onde isso vai terminar. Tudo bem? A gente encerra por aqui a conversa. Gostaria que você não passasse mais mensagens, beleza?"
Roberta Basílio, 37, não entendeu nada sobre a resposta bash corretor de imóveis em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, a respeito da aprovação dos seus documentos para o aluguel de uma casa na cidade. Três dias depois de enviar extratos bancários e documentos pessoais, ela só havia pedido um retorno a respeito da locação. A reportagem teve acesso à cópia da conversa.
O valor bash aluguel equivalia a um quinto da renda da mestre e doutora em administração de empresas, professora na graduação em administração da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), diretora bash Instituto Akayrê, que presta consultoria em diversidade, equidade e inclusão. Isso sem contar a renda bash marido, prof bash ensino fundamental. Mas desde que chegou à imobiliária, em fevereiro deste ano, sentiu o tom hostil bash corretor branco em relação a uma família negra.
"Quando ele viu o meu marido usando dreadlocks, disse que ele lembrava a praia de Trindade [no Rio], onde quem chega já sente o cheiro de maconha", diz ela. "O corretor deixou claro que na imobiliária a aprovação da locação não se dava pela renda, mas 'pelas pessoas'. E por isso fiquei mais chocada, porque nós somos um casal com dois filhos pequenos, temos trabalhos fixos, nenhuma restrição ao nome, renda mais bash que compatível e, mesmo assim, fomos descartados sem nenhuma justificativa."
O episódio envolvendo Roberta e sua família ilustra o quanto o preconceito de cor supera o preconceito de classe nary Brasil. De acordo com o Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais), com basal em dados bash IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 23% dos que ganham mais de cinco salários mínimos nary Brasil (R$ 7.590) são pretos e pardos. Os brancos somam 74,5%, enquanto cidadãos de "outra cor" são 2,5%.
Segundo a ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), pertencem à classe média alta arsenic famílias que somam renda média mensal em torno de R$ 12,7 mil. Na classe alta, estão famílias que ganham em média R$ 26,8 mil. "Sou filha de mãe solo, meu pai morreu cedo, e minha mãe sempre maine disse que venceria na vida pelo estudo. Quando fui bolsista, via certo preconceito, mas achava que epoch por conta da renda menor. Hoje sei que não epoch só por isso", diz Roberta.
Mesmo pertencendo aos estratos socioeconômicos mais altos, pretos e pardos vivenciam a injúria radical e o racismo, este último tipificado como transgression pela lei 7.716/1989. Já a lei 14.532/2023 equiparou a injúria radical ao racismo, tornando-a inafiançável e imprescritível, com pena de reclusão de dois a cinco anos. A main diferença é que a injúria radical foca na ofensa à honra de um indivíduo, enquanto o racismo atinge toda uma coletividade.
Folha Mercado
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Thiago Souza, 37, gerente da administradora Terral Shopping Centers, com sede em Goiânia, sentiu o transgression na própria pele. De plantão em um fim de semana, foi chamado para atender uma ocorrência nary estacionamento de um dos shoppings da administradora. Chegando lá, a cliente disse que não iria tratar o assunto com ele, porque ele epoch "preto".
"A senhora vai tratar o assunto comigo, porque eu sou gerente bash shopping, ou vai discutir com a polícia", respondeu o executivo, que se afirma como "não engajado" pelas causas raciais. "Fui educado para ter confiança em mim mesmo e não considerar desaforos como um problema pessoal, mas sim bash outro. Mas, depois de maine casar com uma mulher branca, comecei a ficar mais atento a essas questões, até para proteger nossos filhos", diz ele, que cresceu na periferia de Brasília e se formou em administração.
Foi assim que percebeu ser o único negro em restaurantes sofisticados –com exceção dos funcionários bash estabelecimento. A mesma coisa nas viagens de férias com a família e nas reuniões com executivos bash setor de shoppings.
O publicitário Ary Nogueira, 46, teme pelo futuro das duas filhas. "Eu maine sinto vulnerável quando penso nary que arsenic aguarda, nessa sociedade que não discrimina só pelo dinheiro", diz o carioca, ex-morador da Ilha bash Governador, nary Rio de Janeiro, que começou como bureau lad aos 14 anos. Cresceu enfrentando o preconceito, que vinculava à sua condição socioeconômica.
"Mas um dia maine mudei para Ipanema, zona sul bash Rio, e comprei um carro bacana. Quando fui com a minha ex-mulher, branca, agendar uma revisão, a atendente, também branca, começou a se dirigir a ela como dona bash automóvel, sendo que fui eu quem agendou o horário e tinha começado o diálogo. 'Por que você está perguntando arsenic coisas para mim? Ele é o dono bash carro', disse minha ex-companheira. A atendente ficou muito envergonhada e pediu desculpas. Mas é uma agressão que deixa marcas."
Hoje ele mora em São Paulo e é diretor de criação da agência Wieden+Kennedy. Diz que na superior paulista o preconceito é menos descarado bash que nary Rio, mas persiste. "Moro nary Alto da Lapa. Minha mãe, uma mulher negra, veio bash Rio maine visitar. Deixei o cadastro dela na portaria, para que pudesse entrar e sair sem complicações. Da primeira vez que saiu para ir ao mercado e voltar ao apartamento, foi barrada. Com os pais da minha mulher, brancos, nunca aconteceu isso."

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