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O que é workslop? Entenda como a IA gera ‘trabalho inútil’ nas empresas

A inteligência artificial é apontada como uma das principais ferramentas para aumentar a eficiência no ambiente corporativo, mas especialistas alertam para um efeito colateral pouco discutido: o workslop. O termo combina “work” (trabalho) e “slop” (algo malfeito ou sem valor) para descrever atividades geradas por IA que aparentam sofisticação, mas não têm substância real. Em vez de acelerar processos e reduzir custos, esse tipo de tarefa cria retrabalho, desgaste entre equipes e perda de recursos. O fenômeno pode custar até US$ 9 milhões anuais a uma empresa de 10 mil colaboradores e mostra que a adoção de IA sem estratégia pode minar tanto a produtividade quanto a confiança entre colegas de trabalho. A seguir, entenda o que é workslop, como afeta funcionários e empresas, de que forma a inteligência artificial pode ser usada de maneira eficaz e análise de especialistas.

O que é workslop? Entenda como a IA pode gerar ‘trabalho inútil’ nas empresas — Foto: Reprodução/LinkedIn O que é workslop? Entenda como a IA pode gerar ‘trabalho inútil’ nas empresas — Foto: Reprodução/LinkedIn
 Reprodução/Freepik O Workslop é definido pelo trabalho inútil ou de pouco valor produzido por inteligências artificiais — Foto: Reprodução/Freepik

Eduardo Freire, estrategista de inovação e CEO da FWK Innovation Design explica que "workslop é quando a inteligência artificial gera algo que parece pronto por fora, mas que é raso por dentro — pode ser um texto, um relatório, um slide ou até um código. Na prática, é aquele material que “vem bonito”, mas não move a tarefa de verdade". Ou seja, o termo workslop vem sendo usado para descrever um tipo de “trabalho inútil” que surge quando a inteligência artificial é empregada de maneira inadequada dentro das empresas. A palavra combina “work” (trabalho) e “slop” (algo malfeito, descuidado ou sem valor), indicando atividades que aparentam ter sofisticação, mas carecem de substância real. Em muitos casos, o workslop chega em forma de relatórios extensos, apresentações bem diagramadas, resumos automáticos ou até códigos de software, mas não entregam clareza, contexto ou aplicabilidade prática.

Esse fenômeno é considerado uma evolução do chamado busywork — tarefas que ocupam tempo, mas não contribuem para o avanço real dos objetivos da empresa. A diferença é que, enquanto o busywork nasce de processos internos mal planejados, o workslop é potencializado pela automação e pela dependência excessiva da IA. O uso indiscriminado de algoritmos pode transformar uma promessa de eficiência em sobrecarga de trabalho e desperdício de recursos, mostrando que a tecnologia pode gerar mais problemas do que soluções.

Como o workslop afeta as empresas e trabalhadores?

 Mikael Blomkvist/Pexels O Workslop afeta a produtividade de empresas e frustraão em funcionários responsáveis por revisões e correções — Foto: Mikael Blomkvist/Pexels

"O impacto é bastante sério. Em primeiro lugar, há um enorme desperdício de tempo e energia, porque o retrabalho se torna inevitável. Também há queda de confiança entre áreas, já que muitas vezes um time manda algo vazio para outro. Isso leva a atrasos em decisões e cria um verdadeiro “teatro de eficiência”, em que há muito output, mas pouco outcome — ou seja, muito esforço aparente e pouco resultado real", explica Freire.

Segundo a pesquisa da Harvard Business Review em parceria com Stanford e BetterUp Labs, 40% dos trabalhadores de escritório nos Estados Unidos receberam tarefas desse tipo no último mês. Na prática, isso significa que materiais superficiais ou mal direcionados acabam sendo entregues como se fossem definitivos, obrigando colegas a investir horas em revisão, correção ou reescrita. Essa transferência do esforço cognitivo desgasta as equipes, que passam a lidar não apenas com a carga de trabalho real, mas também com o desperdício criado por tarefas de baixa qualidade. A sensação de inutilidade e de falta de propósito se intensifica, minando o engajamento e aumentando a desmotivação.

No nível das organizações, o custo do workslop é ainda mais alarmante. Estimativas apontam que cada funcionário perde em média US$ 186 por mês com tarefas desse tipo, o que representa mais de US$ 9 milhões ao ano para uma empresa de 10 mil colaboradores. Além da perda financeira, há um efeito cultural perigoso: a confiança entre colegas se deteriora quando trabalhos inconsistentes são entregues. Funcionários passam a perceber os outros como menos competentes, menos criativos e menos comprometidos, enfraquecendo os vínculos de colaboração. Segundo Eduardo Freire, acontece o chamado “rust-out”: profissionais qualificados que se frustram por passarem a maior parte do tempo revisando entregas da IA em vez de aplicarem suas competências.

Ao gerar retrabalho, sensação de falsa produtividade e desgaste nos relacionamentos profissionais, o workslop se torna um obstáculo real para a inovação e para a eficiência organizacional. "Existe ainda o risco reputacional e jurídico: se esse conteúdo raso ou até alucinado chega a um cliente, à imprensa ou a um regulador, o prejuízo pode ser grande", conta o estrategista de inovação.

Quando vale a pena usar IA nas empresas?

 Reprodução/Freepik A IA pode ser um grande aliado quando utilizado de forma eficiente e consciente — Foto: Reprodução/Freepik

A Inteligência Artificial pode gerar valor real nas empresas quando é utilizada de forma crítica e estratégica, funcionando como uma parceira de pensamento em vez de uma substituta do esforço humano. Nesse cenário, os colaboradores atuam como “pilotos”, usando a tecnologia para expandir a criatividade, explorar alternativas, testar hipóteses e acelerar resultados com propósito. Esse uso consciente permite que a IA libere tempo para que profissionais foquem no que realmente importa: inovar, criar, se relacionar e liderar. Assim, a automação complementa as capacidades humanas em vez de reduzi-las, fortalecendo o papel das equipes no processo de transformação digital.

Por outro lado, a IA deixa de compensar quando aplicada sem critério, de forma indiscriminada ou para evitar responsabilidades. Essa postura de “passageiro” leva à produção de workslop. Pesquisas apontam que, mesmo com o uso da IA dobrando desde 2023, 95% das empresas ainda não conseguem mensurar retorno claro de seus investimentos, justamente porque boa parte do que é produzido se converte em sobrecarga e desperdício.

Para evitar esse problema, a liderança precisa assumir um papel ativo na adoção da tecnologia. Isso significa modelar o uso responsável da IA, estabelecer diretrizes claras e cultivar mentalidades de “piloto” entre os colaboradores. Quando essas condições organizacionais estão presentes, a inteligência artificial se torna uma ferramenta estratégica que amplia a colaboração, fortalece a produtividade e potencializa a inovação, evitando que se transforme em mero ruído digital.

Como usar IA de maneira produtiva no trabalho?

A inteligência artificial pode ser extremamente útil quando aplicada da maneira certa. Freire explica que ela pode ajudar a sintetizar informações com contexto real, combinando fontes internas e externas e citando claramente o que sustenta cada ponto. "Também pode redigir um rascunho com lacunas marcadas, que depois o time complementa com dados e decisões", complementa.

O especialista também oferece outra possibilidade de aplicação, que é a exploração de alternativas: "pedir à IA duas ou três abordagens diferentes, com os trade-offs explícitos, para enriquecer o processo decisório. Ela também é eficiente na checagem de qualidade: pode levantar críticas, contra exemplos e testes em texto, planilhas ou código. E, claro, é ótima para automatizar o que chamamos de “trabalho morto” , tarefas repetitivas de copiar, colar, conciliar ou formatar — liberando as pessoas para inovação, tomada de decisão e construção de relações".

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