A bancada do Progressistas (PP) na Câmara dos Deputados levou ao Palácio do Planalto a necessidade de recompor o orçamento do Ministério do Esporte, alvo de contingenciamentos e bloqueios em 2023 e 2024.
A demanda ocorre num momento em que uma ala do partido defende o desembarque do PP da Esplanada de Lula (PT). A pasta, desde setembro de 2023, está sob o comando do deputado André Fufuca (PP-MA).
De acordo com relatos, o líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho (RJ), conversou com Gleisi Hoffmann, da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), nesta semana afirmando que há uma forte pressão entre os deputados, que estão insatisfeitos com a participação do partido no governo.
Eles se queixam de ruídos nas suas bases eleitorais mais conservadoras por estarem numa gestão petista e dizem que o custo político de permanecer em um ministério com restrições orçamentárias fica mais alto neste cenário.
Nas palavras de um deputado, é necessário que o governo dê melhores condições de trabalho para o Esporte, referindo-se ao cofre da pasta. A demanda é pela manutenção dos recursos do ministério.
Esses parlamentares ampliam a pressão no Planalto, diante de um governo mal avaliado nas pesquisas e um crescente desejo da ala ligada ao bolsonarismo de se afastar de vez de Lula.
Segundo relatos de parlamentares do PP, teria havido uma sinalização positiva ao pleito da bancada por parte do Planalto.
Em entrevista à Folha no último dia 27, o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), disse que "está muito próximo de termos de reunir o partido e tomar uma decisão definitiva de desembarcar".
"Gosto muito do ministro Fufuca, mas, se o governo não tiver uma mudança radical de rumos para o país, não tem nem como a gente, daqui a pouco, permitir que os membros do partido participem desse governo", afirmou.
Nogueira foi chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro (PL) e um dos principais nomes da oposição no Senado. Apesar dos apelos para que a sigla deixe o governo, ainda não houve nenhum encontro da cúpula do PP para tratar do tema.
O PP, além do ministério do Esporte, tem o comando da Caixa Econômica Federal —o dirigente da instituição, Carlos Antônio Vieira Fernandes, foi indicado pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Parlamentares do partido, no entanto, dizem que não se sentem contemplados com o nome de Fernandes e que sua indicação foi um aceno de Lula ao então presidente da Câmara.
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Além disso, o partido, assim como outras legendas do centrão, aguarda desde o ano passado uma reforma ministerial mais ampla, que contemplasse os aliados. Mas, até o momento, Lula fez trocas apenas no PT —como a recente nomeação de Gleisi Hoffmann para a articulação política.
O nome de Lira foi lançado na bolsa de apostas da reforma ministerial. A cúpula da Câmara defendia que ele fosse indicado ao Ministério da Agricultura. Mas aliados do ex-presidente da Câmara dizem que ele não tem esse desejo de integrar o Executivo neste momento.
O Ministério do Esporte foi recriado pelo presidente no início de 2023. Sem previsão orçamentária para aquele ano, a pasta então comandada por Ana Moser recebeu dotação de R$ 1,3 bilhão.
No segundo semestre de 2023, Lula demitiu Moser e trocou Márcio França do ministério de Portos e Aeroportos para Empreendedorismo, como forma de ampliar o espaço de partidos do centrão: Fufuca entrou no Esporte e Silvio Costa Filho, em Portos e Aeroportos.
Ao final do ano, já sob a gestão do parlamentar do PP, a pasta tinha empenhado R$ 984 milhões. Em 2024, a dotação inicial era de R$ 2,2 bilhões, e a pasta empenhou R$ 1,7 bilhões —o empenho é a primeira fase do gasto, quando é feita a reserva do recurso para pagamento.
A diferença de valor reflete aquilo que o ministério não pôde gastar, seja porque foi bloqueado (alvo de queixa do PP), seja porque o recurso ficou empoçado (por diferentes razões, como impedimento técnico para avançar com um projeto).
Comparando com outras pastas da Esplanada, o Esporte já tem um orçamento menor. E os primeiros anos do governo Lula foram marcados por bloqueios e contingenciamentos para cumprir regras fiscais.
No ano passado, o Esporte foi alvo de um bloqueio de quase R$ 152 milhões no total, considerando despesas não obrigatórias (exceto investimentos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento) e emendas de comissão. Nos gastos próprios do ministério, o bloqueio chegou a alcançar, em novembro, 13,7% da dotação inicial. Nas emendas, a trava ficou em 11,8%.
Como o cenário político neste ano mudou, Lula entrou em 2025 com uma queda de aprovação inédita em relação a mandatos anteriores, e a pressão para que não haja cortes nas pastas do centrão tende a ser maior.
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