O mito do protecionismo como motor do desenvolvimento econômico dos Estados Unidos tem sido reforçado por narrativas ao longo dos anos. Contudo, a ideia de que tarifas elevadas foram essenciais para transformar o país em uma potência industrial ignora as evidências. Estudos como os de Alexander Klein e Christopher Meissner apontam que os ganhos de produtividade e o crescimento do setor industrial foram impulsionados, sobretudo, pelo avanço tecnológico, pela expansão do mercado interno e pelo fluxo de investimentos estrangeiros. Ou seja, o desenvolvimento na Era Dourada americana veio apesar das tarifas e não por causa delas.
Outro ponto crucial é o efeito das tarifas sobre o comércio exterior. A política tarifária Smoot-Hawley, implementada nos Estados Unidos em 1930, estabeleceu um aumento substancial nas tarifas de importação sobre uma ampla gama de produtos.
Criada com o objetivo de proteger a indústria e a agricultura da concorrência estrangeira durante a Grande Depressão, a medida elevou significativamente os custos para importadores e desencadeou retaliações comerciais por parte de diversos parceiros internacionais. A análise dessa política ilustra bem o impacto negativo do protecionismo sobre o comércio global e a economia americana. Utilizando um conjunto de dados trimestrais sobre comércio bilateral de 99 países no período entreguerras, Mitchener, Wandschneider e O’Rourke (2021) demonstram que, após a adoção da tarifa em 1930, as exportações dos EUA para os países que retaliaram caíram entre 28% e 33%, enquanto aqueles que apenas protestaram reduziram suas importações em 15% a 22%. Ou seja, as barreiras protecionistas não fortaleceram a economia americana —pelo contrário, prejudicaram seu desempenho no comércio internacional.
O caso da Smoot-Hawley é emblemático porque revela como o protecionismo pode se transformar em um tiro no pé. A política tarifária não só reduziu as exportações americanas, mas também deteriorou as relações comerciais com parceiros estratégicos, levando a uma contração do comércio global. O estudo utilizou modelos gravitacionais de comércio, permitindo isolar o efeito específico das tarifas sobre o fluxo de bens. Os países que retalharam miraram produtos americanos estratégicos, como automóveis, reduzindo suas importações em até 46%. Na prática, as tarifas geram reações que prejudicam justamente os setores que se pretendia proteger.
Folha Mercado
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Além dos impactos sobre o comércio, o protecionismo teve consequências negativas sobre o bem-estar econômico. Os pesquisadores estimam que os ganhos de bem-estar dos países que retaliaram caíram entre 8% e 17% após a implementação do tarifaço dos anos 1930. Contradizendo a ideia de que tarifas podem fortalecer a economia nacional, pois seus custos superam os benefícios, afetando a eficiência e reduzindo o poder de compra dos consumidores.
Outro argumento frequentemente utilizado para justificar tarifas protecionistas é o de que elas promovem empregos. No entanto, no longo prazo, os efeitos são marginais ou até negativos. O protecionismo pode gerar empregos em setores específicos, mas ao custo de aumentar os preços para consumidores e empresas que dependem de insumos importados.
O acesso a uma vasta reserva de recursos naturais, a migração em larga escala e a inovação tecnológica foram os verdadeiros motores do crescimento industrial.
A insistência na narrativa de que os Estados Unidos se industrializaram graças ao protecionismo ignora não apenas a evidência empírica, mas também os custos de políticas tarifárias. As guerras comerciais do passado mostram que o fechamento de mercados gera mais perdas do que ganhos. O protecionismo, quando analisado à luz de evidências, revela-se uma escolha cara e ineficaz para o desenvolvimento econômico e social.
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