O atentado em frente à sede do STF (Supremo Tribunal Federal) intensificou entre atores envolvidos na eleição para a Presidência da República em 2026 as discussões em torno de temas como anistia para condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, pacificação nacional e polarização ideológica.
Depois que Francisco Wanderley Luiz, 59, explodiu-se na praça dos Três Poderes, na última quarta-feira (13), nomes que miram, pela direita, a cadeira ocupada por Lula (PT) se manifestaram contra a politização do caso, seguindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no discurso de que se tratou de um "lobo solitário". Já a base do petista resgatou a bandeira "sem anistia" e cobrou punição para inibir novos atos extremistas.
As reações passaram também por governadores que são tratados como pré-candidatos ou se movimentam como apoiadores de um eventual projeto unificado da direita.
Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) usaram o caso para reforçar a retórica antigoverno e acenar ao espólio eleitoral de Bolsonaro. O ex-presidente está inelegível, mas se coloca como postulante, apostando em uma remota virada a seu favor nas cortes superiores e no Congresso.
Por outro lado, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Jr. (PSD-PR) ficaram em silêncio, numa mostra de como o episódio demanda passos calculados nas esferas institucional e eleitoral.
Lula manteve a agenda oficial e, com as condições de segurança garantidas após o ataque, buscou preservar um ritmo de normalidade no governo, também sem comentar o caso.
No entanto, ministros e aliados de diferentes partidos da base demonstraram alinhamento com a leitura do STF, associando o ataque ao discurso radical do bolsonarismo nos últimos anos, que incluiu a contestação ao resultado eleitoral de 2022 sob alegações infundadas de fraude.
Os auxiliares de Lula trataram as explosões como desdobramento do 8 de janeiro, reiterando que só a punição aos responsáveis vai impedir novas ocorrências. O tom se aproxima do usado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que refutou a teoria de fato isolado, fez uma vinculação do caso ao "gabinete do ódio" do governo Bolsonaro e falou que "não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos".
O principal impacto do atentado para Bolsonaro foi o imediato revés na pauta de anistia para os condenados do 8 de janeiro. O pleito é encampado por seu grupo, com a expectativa de pavimentar um ambiente favorável para a recuperação dos direitos políticos do ex-presidente.
Ao se manifestar, Bolsonaro procurou se distanciar do caso, recorrendo à narrativa de fato isolado cometido por pessoa com "perturbações na saúde mental", e pediu "pacificação nacional", num momento em que sua estratégia de defesa passa por moderar o tom e evitar confrontações com o Judiciário.
Apesar de estar inelegível até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, ele se diz o único no campo da direita com chance de vitória em 2026, por ter o que descreve como "nome nacional". Sem uma reversão judicial, ao ex-mandatário restará um papel coadjuvante.
O atentado também jogou água fria na euforia com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o que é visto como um novo elemento de pressão em favor do ex-presidente no Brasil.
No caso de Lula, a mobilização do entorno em defesa de punição exemplar para crimes contra o Estado democrático de Direito e contra as articulações de anistia se choca com as preocupações eleitorais, depois que o pleito municipal mostrou a esquerda em dificuldade e a direita em evolução.
O presidente participa de conversas em que é aconselhado a deixar para trás o estímulo à polarização e reorganizar os ministérios e a comunicação para a segunda metade do governo. Há uma avaliação de que o tom duro contra o golpismo reforça a imagem de revanchismo e perseguição à direita.
Vocalizados por apoiadores desde a posse de Lula, os gritos de "sem anistia", ainda assim, ganharam novo fôlego após o episódio da semana passada. Pesquisa do Datafolha de março deste ano mostrou que 63% dos brasileiros são contra anistia para os envolvidos nas depredações do 8 de janeiro.
Comentando o atentado, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), do PT, responsabilizou "líderes da extrema direita" por "essa cultura do ódio, da intolerância, do estímulo à violência [que] faz com que as pessoas cometam crimes" contra instituições da democracia, como o Supremo.
A ministra Simone Tebet (Planejamento), do MDB, declarou que é preciso manter vigilância enquanto permanecerem "apitos" que encorajam ataques. "No ataque à democracia, os 'lobos' nunca são solitários", afirmou. Anielle Franco (Igualdade Racial), do PT, disse que "nunca foi nem será um ato isolado".
No lado oposto, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Bolsonaro, repudiou a iniciativa de "extrapolar uma atitude mentecapta de um indivíduo para dar contornos institucionais" ao caso.
"Ao invés de atribuir culpa de parte a parte, faríamos bem em reduzir a temperatura do debate político, trazendo de volta o diálogo como regra básica", afirmou.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, apontou "distorção inaceitável dos fatos", com o "propósito malicioso de atrapalhar o andamento do projeto de lei da anistia". Um dos argumentos dos conservadores é que só o perdão trará uma reconciliação nacional.
Os governadores de oposição que comentaram o atentado aproveitaram as falas para mandar recados.
Caiado culpou Lula, embicando o debate para o viés da segurança pública. Ele, que se declara presidenciável para 2026, afirmou que o país tem "falta de comando" e "ausência de um líder forte" e que "um governo federal fraco e apático [...] se ajoelha diante do avanço do crime organizado e do extremismo".
Zema, que reverbera pautas bolsonaristas, endossou a visão de que o ataque cometido por Francisco foi isolado. O mineiro ainda procurou eximir o PL, sigla pela qual o autor concorreu a vereador em 2020, dizendo que "nenhum partido está isento de ter um louco entre os possíveis candidatos".
Lula (PT)
Presidente não se manifestou sobre o caso até este domingo (17) e manteve a agenda. Auxiliares e aliados rebateram tese de autor "lobo solitário" e vincularam episódio a Bolsonaro e à extrema direita, rechaçando possibilidade de anistia para condenados do 8/1
Jair Bolsonaro (PL)
Inelegível, ex-presidente buscou se distanciar do episódio, tratando-o como "fato isolado", e pediu pacificação. O caso representa um revés para a tentativa de perdoar os presos do 8/1 e pavimentar caminho para uma remota reversão de sua inelegibilidade
Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Governador de São Paulo adotou silêncio sobre o atentado. Tido como um dos pré-candidatos do bolsonarismo para a eleição de 2026, ele defendeu no último 7 de Setembro a anistia para os condenados pela invasão às sedes dos Três Poderes, que chamou de "presos políticos"
Ratinho Jr. (PSD-PR)
Governador do Paraná também não se pronunciou. O opositor de Lula, tratado como uma das alternativas da direita para a disputa presidencial, já assumiu interesse em disputar a cadeira e defende que seu partido tenha protagonismo e candidato, descolando-se da gestão petista
Ronaldo Caiado (União Brasil-GO)
Governador de Goiás relacionou o ataque em Brasília à "falta de comando" e "ausência de um líder forte" no país. Declaradamente pré-candidato para 2026, ele usou o caso para apontar ineficiência do governo Lula na segurança, diante do avanço do crime organizado e do extremismo
Romeu Zema (Novo-MG)
Governador de Minas Gerais rechaçou a possibilidade de o ataque ser parte de um movimento maior, ecoando a tese bolsonarista de "ato isolado", cometido por "alguém em profundo desequilíbrio emocional". Ele também isentou de responsabilidade o PL, ao qual o autor foi filiado
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