Ståle Fyen sorri enquanto conecta um cabo para carregar seu carro elétrico

Legenda da foto, Assim como um terço dos motoristas noruegueses, Ståle Fyen agora dirige um carro elétrico
  • Author, Adrienne Murray
  • Role, Repórter de negócios da BBC News
  • Há 23 minutos

A Noruega é líder mundial no que diz respeito ao uso de carros elétricos, que no ano passado representaram nove de cada dez veículos novos vendidos no país. Será que outras nações podem aprender com ela?

Há mais de 75 anos, a concessionária de automóveis Harald A Møller, com sede em Oslo, importa veículos da Volkswagen, mas no início de 2024 ela se despediu dos carros movidos a combustíveis fósseis.

Agora, todos os veículos de passeio à venda em seu showroom são elétricos.

"Achamos que é errado aconselhar um cliente que vem aqui hoje a comprar um carro com ICE [motor de combustão interna], porque o futuro é elétrico", diz o CEO da concessionária, Ulf Tore Hekneby, enquanto caminha pelos carros em exposição.

"Alta autonomia, alta velocidade de recarga. É difícil voltar atrás."

Nas ruas de Oslo, capital da Noruega, os carros movidos a bateria não são uma novidade, são a norma.

Basta dar uma olhada ao redor, e você logo vai perceber que quase todos os outros carros têm uma letra "E", de "elétrico", na placa.

A nação nórdica de 5,5 milhões de habitantes adotou os veículos elétricos (VEs) mais rápido do que qualquer outro país — e está prestes a se tornar a primeira a eliminar gradualmente a venda de carros novos movidos a combustíveis fósseis.

No ano passado, o número de carros elétricos nas estradas norueguesas superou pela primeira vez o de movidos a gasolina. Se incluirmos os veículos a diesel, os carros elétricos representam quase um terço de todos os automóveis nas estradas norueguesas.

E 88,9% dos carros novos vendidos no país no ano passado foram veículos elétricos, contra 82,4% em 2023, segundo dados da Federação Rodoviária Norueguesa.

Em alguns meses, as vendas de carros totalmente elétricos chegaram a 98%, enquanto as aquisições de carros novos a gasolina ou diesel foram praticamente inexistentes.

Em contrapartida, no Reino Unido, os carros elétricos representaram apenas 20% dos registros de carros novos em 2024. Embora tenha sido um recorde, acima dos 16,5% em 2023.

Nos EUA, este percentual foi de somente 8% no ano passado, mas acima dos 7,6% do ano anterior.

Uma estação de recarga de veículos elétricos na vila norueguesa de Eidfjord

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A Noruega agora tem uma ampla rede de estações de recarga públicas em todo o país

A Noruega é, sem dúvida, pioneira em veículos elétricos, mas esta revolução elétrica está em andamento há três décadas.

"Começou no início da década de 1990", diz Christina Bu, secretária-geral da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos, enquanto me levava para dar uma volta por Oslo em uma minivan elétrica.

"Pouco a pouco, foram tributando mais os carros com motores a gasolina e a diesel, de modo que ficou muito mais caro comprar este tipo de veículo, enquanto os carros elétricos foram isentos de impostos."

O incentivo aos veículos elétricos foi introduzido pela primeira vez para ajudar duas montadoras norueguesas, fabricantes dos primeiros VEs, a Buddy (anteriormente Kewet) e a TH!NK City. Embora elas tenham saído do mercado, os incentivos para os veículos mais sustentáveis permaneceram.

"Nosso objetivo é fazer com que a escolha de emissão zero seja sempre uma opção boa e viável", afirma a vice-ministra dos Transportes da Noruega, Cecilie Knibe Kroglund.

Embora seja um grande produtor de petróleo e gás, a Noruega quer que todos os carros novos vendidos no país sejam de "emissão zero", a partir de algum momento em 2025. A meta sem caráter vinculativo foi estabelecida em 2017, e esse marco agora está ao alcance do país.

"Estamos nos aproximando da meta, e acho que vamos alcançá-la", acrescenta Kroglund. "Acho que já fizemos a transição para os carros de passeio."

Segundo ela, o segredo para o sucesso da Noruega foram as políticas previsíveis e de longo prazo.

Em vez de proibir os veículos com motor de combustão, o governo direcionou as escolhas dos consumidores. Além de penalizar os veículos movidos a combustível fóssil com impostos e taxas de registro mais altos, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) e as taxas de importação foram abolidos para carros de baixa emissão.

Uma série de vantagens foram oferecidas na sequência, como estacionamento gratuito, pedágios com desconto e acesso a faixas para ônibus.

Para efeito de comparação, a União Europeia planeja proibir as vendas de carros novos movidos a combustíveis fósseis até 2035, e o atual governo do Reino Unido quer proibir suas vendas em 2030.

A venda de carros a gasolina e a diesel ainda é permitida na Noruega. Mas poucos estão optando por comprá-los.

Uma plataforma de petróleo norueguesa

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As consideráveis exportações de petróleo e gás da Noruega significam que o país pode viver sem as receitas tributárias domésticas provenientes da gasolina e do diesel

Para muitos moradores locais, como Ståle Fyen, que comprou seu primeiro veículo elétrico há 15 meses, a opção elétrica faz sentido do ponto de vista econômico.

"Com todos os incentivos que temos na Noruega, sem impostos sobre veículos elétricos, isso foi muito importante para nós em termos financeiros", diz ele enquanto conecta seu carro em uma estação de recarga na capital.

"No frio, a autonomia talvez seja 20% menor, mas, ainda assim, com a ampla rede de recarga que temos aqui na Noruega, isso não é um grande problema", acrescenta Fyen.

"Você só precisa mudar sua mentalidade e recarregar quando puder, não quando precisar."

Merete Eggesbø, que também dirige um veículo elétrico, afirma que, em 2014, foi uma das primeiras pessoas na Noruega a ter um Tesla.

"Eu realmente queria um carro que não poluísse. Isso me deu mais consciência ao dirigir."

Nos postos de gasolina noruegueses, muitas bombas de combustível foram substituídas por pontos de recarga rápida, e em toda a Noruega há agora mais de 27 mil pontos de recarga públicos.

Para efeito de comparação, há 73.699 no Reino Unido —- um país 12 vezes maior em termos de população.

Isso significa que, para cada 100 mil pessoas, a Noruega tem 447 carregadores, enquanto o Reino Unido tem apenas 89, de acordo com um relatório recente.

Tesla, Volkswagen e Toyota foram as marcas de veículos elétricos mais vendidas da Noruega no ano passado. Enquanto isso, marcas de propriedade chinesa — como MG, BYD, Polestar e XPeng — agora representam 10% do mercado, de acordo com a Federação Rodoviária Norueguesa.

A Noruega, diferentemente dos EUA e da União Europeia, não impôs tarifas sobre as importações de veículos elétricos chineses.

Christina Bu parada na rua, no inverno, com carros estacionados ao seu lado

Crédito, Christina Bu

Legenda da foto, Christina Bu diz que a revolução dos veículos elétricos na Noruega está em andamento há três décadas

Bu diz que "não há realmente nenhuma razão pela qual outros países não possam copiar a Noruega". No entanto, ela acrescenta que "tudo se resume a fazer isso de uma forma que possa funcionar em cada país ou mercado".

Segundo ela, os noruegueses não estão mais preocupados com o meio ambiente do que a população de outros lugares.

"Não acho que uma mentalidade sustentável tenha muito a ver com isso. Tem a ver com políticas fortes, e com o fato de as pessoas entenderem gradualmente que é possível dirigir um carro elétrico."

No entanto, a Noruega também é uma nação muito rica, que, graças às suas enormes exportações de petróleo e gás, tem um fundo soberano de mais de US$ 1,7 trilhão. Isso significa que ela pode arcar mais facilmente com os custos de grandes projetos de construção de infraestrutura, e absorver a perda de receita tributária proveniente da venda de carros a gasolina e diesel e seus combustíveis.

O país também tem uma abundância de energia hidrelétrica renovável, que responde por 88% de sua capacidade de produção.

"Um terço dos carros agora são elétricos, e vai passar de 50% em alguns anos", diz Kjell Werner Johansen, do Centro Norueguês de Pesquisa em Transportes.

"Acho que o governo aceita que alguns carros novos a gasolina ou híbridos ainda vão estar no mercado, mas não conheço ninguém que queira comprar um carro a diesel atualmente."