O trabalho de um engenheiro do Google no Brasil não é o de tropicalização, é o de desenvolver funções e produtos com impacto global
Berthier Ribeiro-Neto
Nos primórdios do buscador, havia uma falha que alteravam drasticamente os resultados a depender do idioma e país em que a pesquisa era feita. Para ajudar a entender o problema, Berthier primeiro conta qual era a lógica adotada.
Tem consultas em que a melhor resposta não está no Brasil. Por exemplo, a Britney Spears: a melhor resposta está na página dela e essa página não está no Brasil
Berthier Ribeiro-Neto
Só havia uma questão. Priorizar os melhores resultados dentre as opções de toda a internet fazia com que buscas realizadas no Brasil apresentassem menos resultados em português. Ao pesquisar por "download mp3" no Brasil, exemplifica Ribeiro-Neto, os primeiros resultados incluíam textos em português, alemão e mandarim.
Esse problema fazia com que usuários fossem expostos a conteúdo que simplesmente não conseguiam consumir. E isso não ocorria só com o Brasil, mas também com outros países.
"Aí nós nos perguntamos: tem esse problema na Espanha? Na França? Na Coreia? Na verdade, o problema estava em todo lugar do mundo", apontou Ribeiro-Neto.
Por que o pessoal de Mountain View não viu? Porque faziam as consultas da Califórnia e na Califórnia funcionava
Berthier Ribeiro-Neto
Ou seja, a falha passava incólume pelos engenheiros norte-americanos, porque os resultados para as buscas que faziam incluíam grande quantidade de links dos Estados Unidos.
Propusemos uma modificação no código, fizemos experimentos. O responsável pela busca na época me disse que esse era o experimento de maior impacto na empresa naquele ano
Berthier Ribeiro-Neto
Feito no Brasil, por engenheiros brasileiros. Com o novo código, as respostas a uma consulta passaram a trazer mais resultados no idioma buscado.
Berthier Ribeiro-Neto comenta que há no Brasil uma "síndrome do ser pequeno". Contudo, a trajetória de engenheiros brasileiros na empresa e as soluções pensadas por eles para resolver problemas globais contam outra história.
A reputação dos engenheiros que o Brasil têm dentro de uma empresa como o Google mostra que a gente pode fazer tão bem quanto qualquer povo desde que a gente se organize
Berthier Ribeiro-Neto
IA? Nada disso! Jovens viciados no TikTok é que podem mudar o Google
Inteligência artificial? Amazon? O mecanismo de busca está ficando 'burro', a ponto de muita gente reclamar? Muita gente elenca as ameaças a uma empresa gigante como o Google. Mas a percepção de um dos engenheiros que mais entendem da Big Tech é outra.
Para Berthier, a geração de jovens que se viciou na experiência de vídeos curtos e rápidos do TikTok dificilmente vai se adaptar ao funcionamento do Google.
Como resolver o problema? Não será virando uma versão do TikTok. "A máquina da busca do Google tem uma expectativa. Se virar um Tiktok, vai frustrar 1 bilhão de pessoas todos os dias", profetiza Berthier.
Como o Google chegou ao Brasil após comprar empresa de professores
Era bom para a universidade, era bom para a cidade, para o estado e para o país. Tinha que fazer e nós fizemos
Berthier Ribeiro-Neto
As digitais do engenheiro Berthier Ribeiro-Neto estão presentes na chegada do Google ao Brasil no começo dos anos 2000. Ele e outros professores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) são os fundadores da Akwan, empresa de buscas que fez tanto sucesso que acabou chamando a atenção da companhia norte-americana.
Neto contou como ocorreu a aproximação com a Google, na época uma empresa em potencial, mas longe de ser a Big Tech que é hoje.
O interesse culminou na aquisição da empresa de Berthier, que virou o primeiro funcionário do Google no Brasil. Ele foi diretor de engenharia do centro de tecnologia da companhia no Brasil durante 19 anos até decidir sair em julho deste ano. Essa é a primeira entrevista após deixar a empresa.
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