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À época, o Equador era de fato um dos países mais seguros da América do Sul. A taxa de homicídios em 2016 era de 5,83 por 100 mil habitantes, e chegou a cair no ano seguinte para o recorde histórico de 5,81 por 100 mil habitantes.
Como comparação, o Brasil tinha índices muito maiores: em 2016, eram 26,4 homicídios dolosos por 100 mil habitantes, e 27 em 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As taxas de homicídio que o governo usava como troféu foram crescendo progressivamente até quadruplicar em 2020, quando uma série de massacres entre gangues rivais tomou conta de presídios por todo o país.
E o pior ainda estava por vir: em 2023, o índice quase dobrou e chegou a 46,5 por 100 mil habitantes, segundo dados divulgados pelo jornal El Universo.
Foi a pior da taxa da história do país, e mais que o dobro da registrada no Brasil no ano passado, de 19,5 por 100 mil habitantes, segundo o FBSP.
Taxa de homicídios no Equador se multiplicou por seis em menos de uma década
De ilha de paz à escalada da violência
Em 2015, o governo do Equador celebrava que as baixas taxas de homicídio haviam colocado seu país no ranking dos três países mais seguros da região, atrás apenas de Argentina e Chile. Também o descolaram do cenário de seus vizinhos Peru e Colômbia — historicamente com problemas com guerrilha, o que fez o Equador ser conhecido como "ilha de paz".
Mas foi justamente a vizinhança que levou o Equador a passar de uma espécie de oásis da segurança ao país mais violento da América do Sul.
O acordo de paz assinado entre o governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016 fulminou os cartéis que chegaram a dominar cidades inteiras do país. Mas, em vez de ser extinto, o mercado de drogas acabou migrando para regiões no Equador.
Lá, narcotraficantes encontraram as brechas que precisavam para seguir operando: uma política de segurança pública pouco especializada no crime que cometem combinada ao fator geográfico.
O vácuo no domínio do tráfico de drogas na região também atiçou a cobiça dos cartéis equatorianos, mexicanos e até da máfia albanesa, segundo o cientista político especializado em América Latina Will Freeman, do Conselho de Relações Exteriores, think tank dos Estados Unidos.
“Depois do acordo, grupos do Equador começaram a brigar por esse espaço. Percebendo uma oportunidade, grupos criminais estrangeiros logo também entraram na batalha”.
Policiais fazem linha de bloqueio em Huaquillas, no Equador, perto da fronteira com o Peru, no dia 10 de janeiro de 2024 — Foto: Ralph Zapata/Reuters
Ariel Palacios: Equador tem um dos maiores índices homicídios da América Latina
Os outros candidatos, incluído o atual presidente, Daniel Noboa, passaram a usar coletes à prova de bala no resto da campanha e foram votar rodeados de um forte esquema de segurança.
Mas, em paralelo aos baixos índices de criminalidade que o Equador viveu na década passada, o período também já dava sinais de que a situação poderia piorar.
Em 2010, um motim de policiais por salários melhores mergulhou o país, então sob comando do esquerdista Rafael Correa, em uma crise institucional que quase terminou em um golpe de estado, segundo o governo da época. Já a oposição acusou Correa de reprimir fortemente os protestos e caçar a imprensa, processando jornais e minando a liberdade de expressão.
A polarização aumentou, mas o caos institucional ainda não se refletia nos índices de criminalidade. Foi só a partir de 2018 que a violência nas ruas começou a crescer, de forma tímida, até chegar ao cenário de 2023, que se tornou o ano mais violento da história do Equador, segundo disse o cientista político Fernando Carrión, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais, na Guatemala, à agência de notícias Associated Press.
Ainda segundo Carrión, o país tem o crescimento mais rápido e "impressionante" do índice de homicídios em toda a América Latina.
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