Se você tem acompanhado as notícias ao longo do ano, deve ter se deparado com várias notícias de mortes, às vezes de pessoas não envolvidas com o crime, por parte da polícia. Não à toa, uma pesquisa do Datafolha revelou que 51% dos brasileiros sentem mais medo da polícia do que confiança nela.
Essa situação não apenas fragiliza a segurança pública, mas também alimenta a desconfiança na atuação. A reversão desse quadro exige ação imediata: protocolos claros, tecnologia alinhada a boas práticas e incentivos que promovam a responsabilidade e a transparência nas corporações.
O uso de câmeras corporais pela PMESP (Polícia Militar do Estado de São Paulo) é um exemplo concreto de como a tecnologia pode contribuir para uma mudança de paradigma.
Um estudo do Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública da FGV demonstrou que a adoção das "body cams" (câmeras corporais) reduziu em 57% as mortes decorrentes de ações policiais nas áreas em que foram implementadas.
Essa redução ocorreu sem comprometer outros indicadores de desempenho, como prisões ou registros de ocorrências criminais, evidenciando que a tecnologia não enfraquece a atuação policial.
Apesar dos resultados, a tecnologia por si só não resolve os problemas estruturais. É fundamental transformar a maneira como as forças policiais se relacionam com a sociedade, rompendo com práticas de exclusão e violência que geram vítimas. Protocolos bem definidos e incentivos claros são indispensáveis para que essa transformação seja efetiva.
O impacto das câmeras corporais é potencializado quando combinado com treinamento adequado. Os policiais capacitados em técnicas de desescalada, que compreendem os limites do uso da força e têm consciência de que suas ações estão sendo monitoradas, tendem a agir de forma mais ética.
As gravações podem, ainda, ser utilizadas como material pedagógico, aprimorando a formação contínua dos agentes. Estudos como o de Ariel Barak e outros autores reforçam que integrar as câmeras à gestão institucional é essencial para consolidar uma cultura de responsabilidade.
Outro ponto crítico é a valorização dos profissionais que aderem às boas práticas. Incentivos financeiros e de carreira são fundamentais para garantir o engajamento dos policiais, evitando que medidas como as body cams sejam vistas como formas de punição ou controle excessivo.
Reconhecer e recompensar condutas exemplares fortalece a motivação interna e promove um ambiente mais receptivo à mudança.
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No Brasil, o programa Olho Vivo da PMESP é uma referência relevante. Apesar de enfrentar desafios financeiros e resistência política, o projeto demonstrou resultados positivos na redução da violência policial e na promoção de uma cultura mais transparente.
No entanto, cortes no orçamento realizados recentemente pelo governo estadual comprometem sua continuidade, evidenciando a fragilidade das políticas públicas em contextos de instabilidade política e econômica.
Essa falta de priorização sublinha a necessidade de mobilização social para garantir a expansão de iniciativas que já se mostraram eficazes.
Reconstruir a confiança na polícia é uma necessidade urgente para combater o crime e proteger direitos fundamentais.
Dados do Datafolha mostram que o medo é mais presente entre negros, historicamente mais vulneráveis à violência estatal, o que reforça a urgência de políticas que não apenas mitiguem os efeitos, mas enfrentem as causas da desconfiança.
O Brasil tem exemplos concretos e ferramentas à disposição para avançar. O desafio é garantir que nossos governadores compreendam que adotar protocolos claros e investir em transparência para as forças de segurança não é uma escolha, mas uma obrigação.
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