A regra é clara! E não falha. Em ano de El Niño, frutas e hortaliças sofrem, enquanto a produção de grãos é abundante. Por isso, não estranhe aquele figo com pouco sabor ou a uva menos doce. A explicação está no clima.
O fenômeno climático impacta volume e qualidade dos produtos. O excesso de chuvas nos meses de setembro, outubro e novembro, combinado com a menor incidência de sol sobre as plantas, reduz a proporção de açúcares nas frutas, além de aumentar o risco da ocorrência de fitopatias.
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Por isso, neste ano, a produção de uvas será pelo menos 40% menor, enquanto a safra de figos já tem perda consolidada de ao menos 20% no Rio Grande do Sul, diz Enio Ângelo Todeschini, assistente técnico regional de fruticultura da Emater de Caxias do Sul.
No Estado, são 670 produtores de figo, que cultivam em 560 hectares. Dessa área, 345 hectares estão na Serra e no Vale do Caí, mais especificamente nos municípios de Nova Petrópolis, Feliz, Gramado e Caxias do Sul. As principais variedades são a Roxo de Valinhos, a Pingo de Mel e a Negrito, mais utilizada pelas indústrias.
Em períodos normais de clima, as duas regiões produzem 3,2 mil toneladas da fruta. Mas neste ano, o volume não deve superar as 2,5 mil toneladas.
“O figo está atrasado em sua maturação e também na colheita. Ontem (terça-feira), tivemos 90 milímetros de precipitação. Um horror para os figos. E colhemos apenas 30% da safra até agora”, conta Todeschini.
O agrônomo lembra que a situação atual repete o comportamento das safras de 2001/2002, de 2009/2010 e de 2015/2016, quando o El Niño marcou presença e derrubou as performances nos pomares. Segundo ele, porém, a menor oferta faz aumentar a procura das indústrias e também a valorização do produto. Há quem pague R$ 15,00 pelo quilo. No atacado, o preço oscila entre R$ 7,00 e R$ 10,00.
“O figo é uma fruta fácil de cultivar em anos de menor precipitação. Mas, com aumento de chuvas e os riscos do surgimento de doenças, o uso de defensivos nos pomares pelo menos dobrou. No caso da uva, a aplicação triplicou nos parreirais. Então, quando dizem que o custo de produção baixou, porque caiu o preço dos insumos, estão esquecendo que a necessidade de aplicação aumentou”, relata o agrônomo da Emater.
Enquanto isso, nos parreirais a expectativa é quanto ao resultado que será mostrado na colheita de uvas Isabel, variedade tardia e que, ainda assim, está com seu desenvolvimento atrasado. Junto com a Bordô, a Isabel responde por pelo menos 65% da produção gaúcha.
De acordo com Todeschini, a colheita dessa variedade pode ser o diferencial na balança. O prejuízo na safra de uva, portanto, pode ir adiante dos 40%, se voltar a chover em abundância nos próximos dias.
“Pelo menos a lei de mercado está atuando também. Pela primeira vez, o governo definiu um preço mínimo oficial de R$ 1,50 o quilo da Isabel com 15 gramas de açúcar por 100 gramas de fruta, abaixo do estabelecido no ano passado. Mas, com produção menor, há negócios feitos com preço de R$ 2,10 o quilo, à vista”, conclui.
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