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Envelhecimento da população impacta na configuração da força de trabalho do RS

TRABALHO

- Publicada em 31 de Outubro de 2023 às 17:59

Um a cada cinco gaúchos tem mais de 65 anos, segundo o IBGE

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O Brasil nunca esteve tão envelhecido. O número de pessoas com 65 anos ou mais (22.169.101) já representa 10,9% da população brasileira, uma alta expressiva de 57,4% frente a 2010, segundo o Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE. Esse franco processo de envelhecimento é ainda mais expressivo no Rio Grande do Sul, onde há a maior proporção de idosos (14,1%) e o menor percentual de crianças do País: a cada cinco gaúchos, um tem mais de 65 anos. E essa amostragem do Censo também incide diretamente sobre a força de trabalho no Estado.

Com menos pessoas em idade produtiva, a escassez de mão de obra tende a ser cada vez problemática, cenário este que já vem sendo sentido no RS, aponta Gilmar Sossella, secretário do Trabalho e Desenvolvimento Profissional. "O principal motivo é a falta de capacitação", diz ele.

Em 12 anos, a população no Estado cresceu apenas 0,14%."A partir de 2024, vamos começar a verificar variação populacional negativa. Ou seja, mais óbitos que nascimentos. Isso traz prejuízos grandes à força de trabalho, mas também é nesse cenário que cresce a contratação das pessoas acima dos 65 anos", diz Sossella.

Segundo o Departamento de Economia e Estatística do Estado (DEE-RS), em 2010, os idosos com empregos formais no RS somavam 0,7% do total de empregados, mas em 2022 essa participação saltou para 1,7%. "Isso reflete um aumento de 151%, de 20 mil para 51 mil pessoas. É o contingente que mais cresceu, pois neste mesmo período a participação de trabalhadores de até 29 anos diminuiu", explica o pesquisador do DEE-RS, Guilherme Xavier.

Mesmo assim, ele ressalta que desde 2020 (início da linha histórica do nova Caged), as admissões no Estado estão concentradas no público mais jovem, enquanto as demissões acontecem mais com trabalhadores acima de 50 anos. No terceiro trimestre de 2023, o saldo negativo mais expressivo entre admissões e desligamentos verificou-se para os trabalhadores entre 50 e 64 anos (-10,2 mil vínculos), seguido pelo da faixa etária mais elevada, de 65 anos ou mais (-3,8 mil).

“Esses dados sugerem um intenso viés etário orientado para o recrutamento dos indivíduos muito jovens, tendência que geralmente se associa a políticas de redução de custos salariais e implica o engajamento de trabalhadores com menor experiência profissional e amadurecimento pessoal”, aponta o Boletim Trimestral de Trabalho, publicado pelo DEE-RS.

Neste ritmo, haverá um momento em que será necessário reinserir os profissionais mais velhos ao mercado de trabalho, pois não haverá mão de obra, aponta Martin Henkel, CEO da Senior Lab, consultoria especializada em auxiliar marcas para atender o consumidor acima dos 60 anos. Segundo Henkel, o etarismo no mercado de trabalho, sobretudo no segmento criativo, tem levado a população idosa a empreender mais.

“Muitos profissionais acima dos 60 estão empreendendo como forma de subsistência, mas têm se mostrado ótimos gestores, em razão da carga de experiência que adquiriram em sua jornada de trabalho”, explica.

De acordo com o Sebrae, apesar de responder por apenas 7,3% do total de empreendedores, a terceira idade constitui o grupo que proporcionalmente mais gera emprego entre os pequenos negócios. Essa parcela de empreendedores também é a que possui negócios mais longevos, 92% estão há mais de dois anos em atividade.

“Ao longo do tempo a base da pirâmide etária foi se estreitando devido à redução da fecundidade e dos nascimentos que ocorrem no Brasil. Essa mudança no formato da pirâmide etária passa a ser visível a partir dos anos 1990 e a pirâmide etária do Brasil perde, claramente, seu formato piramidal a partir de 2000. O que se observa ao longo dos anos, é redução da população jovem, com aumento da população em idade adulta e também do topo da pirâmide até 2022”, analisa a gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri.

Trabalhadores precisarão ser mais produtivos

Segundo economistas, o bônus etário no Brasil, período em que a população com idade produtiva é significativamente maior, ocorreu entre as décadas de 1980 e 2000, mas foi pouco aproveitado. Como consequência, será preciso ser mais produtivo com menos força de trabalho.

Em 1980, o Brasil tinha 4,0% da população com 65 anos ou mais de idade. Os 10,9% alcançados em 2022 por essa parcela da população representa o maior percentual encontrado nos Censos Demográficos. No outro extremo da pirâmide etária, o percentual de crianças de até 14 anos de idade, que era de 38,2% em 1980, passou a 19,8% em 2022.

“Quando um país é jovem, ele precisa aproveitar esse período para acumular capital e enriquecer antes de envelhecer. Países da Europa e Ásia foram bem sucedidos nessa tarefa, mas o Brasil não conseguiu atingir a alta renda. Com uma população crescente de idosos, isso será mais difícil”, analisa o economista Aod Cunha, ex-secretário estadual da Fazenda.

“No auge de seu bônus demográfico, o Brasil conviveu com uma série de problemas, como hiperinflação e alta carga tributária, o que impediu a construção de um ambiente favorável para o empreendedorismo. O modelo de ensino precisa se alinhar o quanto antes para capacitar profissionais mais produtivos para esta e as próximas décadas”, acrescenta Giovani Baggio, economista-chefe da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

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