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Hamas diz que entregou corpo de Shiri Bibas à Cruz Vermelha após Israel afirmar que restos mortais recebidos não eram da refém

Segundo a TV Al Jazeera, a Cruz Vermelha confirmou o recebimento de um novo caixão. Pelo acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas que entrou em vigor em janeiro, a entidade atua como mediadora da troca de reféns e prisioneiros entre Israel e palestinos.

Os restos mortais serão entregues às Forças de Defesa de Israel e seguirão para o Instituto Nacional de Medicina Forense para identificação.

Shiri Bibas, sequestrada em 7 de outubro de 2023 quando tinha 32 anos, morreu em cativeiro, e seu restos mortais foram devolvidos pelo Hamas na quinta-feira (20), junto dos corpos de seus dois filhos, também sequestrados com ela, e de um refém idoso. A família se tornou o símbolo da luta pelo retorno dos reféns (Leia mais abaixo).

Em comunicado nesta sexta, o Hamas alegou que os restos mortais de Shiri podem ter sido misturados com outros corpos sob os escombros de um ataque aéreo israelense que atingiu o cativeiro onde estava — o grupo terrorista atribui a morte da família Bibas ao bombardeio. Já Israel disse que a análise dos restos mortais revelou que eles foram assassinados em cativeiro.

Ainda de acordo com o comunicado do Hamas, o grupo disse que vai investigar o caso, e que os resultados serão anunciados em breve.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Hamas de ter cometido uma "violação cruel" da trégua em Gaza pela troca dos corpos, e disse que Israel atuará "com determinação" para trazer Shiri Bibas de volta ao país. Ainda na quinta-feira, Israel pediu a devolução do corpo dela imediatamente e considerou o caso uma "violação de extrema gravidade".

"Agiremos com determinação para trazer Shiri de volta para casa, junto com todos os nossos reféns – tanto os vivos quanto os mortos – e garantiremos que o Hamas pague o preço total por essa cruel e brutal violação do acordo. (...) Nós os vingaremos", afirmou Netanyahu.

Em resposta, o Hamas rechaçou as ameaças de Netanyahu e disse que continuará com a implementação do acordo de cessar-fogo. Também nesta sexta-feira, o grupo terrorista divulgou os nomes dos seis reféns que serão libertados no sábado (22).

A Cruz Vermelha também afirmou nesta sexta-feira à agência de notícias Reuters estar "preocupada e insatisfeita" com a forma como as operações de liberação de reféns pelo Hamas têm ocorrido.

Comboio com corpos passa por Tel Aviv — Foto: REUTERS/Nir Elias

A reveleção de Israel que os restos mortais não pertencem aos de Shiri Bibas surgiu na noite de quinta-feira, após o Hamas devolver os corpos.

"Durante o processo de identificação forense, foi determinado que o corpo adicional recebido não é o de Shiri Bibas, e nenhuma correspondência foi encontrada para qualquer outro refém. Este é um corpo anônimo, não identificado", diz um comunicado das Forças Armadas.

A perícia, ainda segundo as Forças Armadas, confirmou ainda os outros corpos devolvidos correspondem de fato aos de Ariel e Kfir Bibas, filhos de Shiri, e de Oded Lifschitz, de 83 anos, o outro refém morto cujos restos foram entregues junto da família Bibas.

"Essa é uma violação de extrema gravidade pela organização terrorista Hamas, que é obrigada, sob o acordo [de cessar-fogo], a devolver quatro reféns mortos. Exigimos que o Hamas devolva Shiri para casa junto com todos os nossos reféns", diz ainda a nota.

O grupo terrorista Hamas disse que um ataque aéreo israelense havia matado Shiri e os meninos em 2023, cerca de um mês após o sequestro. Israel não confirmou a acusação, que chamou de propaganda cruel.

Símbolo dos israelenses sequestrados

Vídeo mostra momento em que família Bibas, de Israel, é levada pelo Hamas

Vídeo mostra momento em que família Bibas, de Israel, é levada pelo Hamas

Horas depois de o Hamas invadir Israel em 7 de outubro de 2023, no ataque que deu início à guerra, a família Bibas virou o grande símbolo dos israelenses sequestrados pelo grupo terrorista.

Naquele mesmo dia, imagens de uma moradora de um dos kibutz atacados no sul de Israel, o Nir Oz, aterrorizada, cercada por homens armados e segurando seus dois filhos pequenos viralizaram nas redes sociais (veja vídeo acima).

Era Shiri Bibas, levada naquele dia por terroristas do Hamas junto de seu filho Ariel, de 4 anos, e Kfir, um bebê de apenas nove meses, o mais novo entre os 251 sequestrados pelo Hamas no ataque.

Por 20 meses, a família Bibas se tornou um símbolo da luta de parentes dos reféns, que também direcionou seus protestos ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. As imagens de Shiri e das crianças sorridentes eram usadas como uma espécie de bandeira de esperança e de cobrança a Netanyahu pela devolução dos reféns.

Ele foi sequestrado antes da mulher e dos filhos, porque, no momento do ataque, deixou o esconderijo onde estavam para distrair os terroristas. Mas um segundo grupo de membros do Hamas encontrou o esconderijo e levou os três.

Yarden nunca encontrou, durante o cativeiro, com a esposa e os filhos, segundo a imprensa israelense.

Já os pais de Shiri Bibas morreram durante o ataque do grupo terrorista ao kibutz, onde também viviam. O kibutz da família Bibas foi um dos mais destruídos no ataque de 7 de outubro do Hamas. Na ocasião, um em cada quatro moradores do local foi morto ou sequestrado naquele dia.

Foi lá onde as duas crianças sequestradas nasceram e estavam crescendo. Nos dias seguintes do ataque de 7 de outubro, triciclos e brinquedos ainda estavam espalhados no gramado do lado de fora da casa da família, enquanto a porta da frente perfurada por balas exibia pôsteres dos quatro sorridentes membros da família Bibas.

Shiri era israelense, mas tinha origem argentina. Sua família migrou do país latino-americano para Israel, onde ela também cresceu.

Mas a família vinha considerando se mudar. Segundo parentes, Shiri e Yarden estudavam ir morar nas Colinas de Golã, território sírio anexado por Israel em 1981. Eles queriam se mudar justamente por conta das tensões na região em que viviam: o kibutz fica perto da fronteira com a Faixa de Gaza, e o lançamento de foguetes era frequente.

Apesar de a família Bibas ter se tornado o símbolo da esperança entre os parentes de reféns, a demora para devolvê-los começou a alimentar rumores de que eles estariam mortos.

A maioria das mulheres e crianças entre os 251 sequestrados foi libertada pelo Hamas já no primeiro acordo de trégua entre Israel e Hamas, no final de novembro de 2023. Mas Shiri e as crianças nunca apareciam nas listas.

Yarden Bibas, refém israelense libertado pelo Hamas em 1º de fevereiro de 2025. — Foto: REUTERS/Ramadan Abed

Depois, o Hamas disse que Shiri e os filhos foram mortos em um ataque aéreo israelense.

Israel sempre disse que nunca conseguiu verificar a alegação e que os três não estão entre os 36 reféns de Gaza que as autoridades israelenses declararam mortos à revelia, com base em inteligência e perícia.

No ano passado, os militares israelenses recuperaram um vídeo de câmeras de segurança que mostrava Shiri e seus filhos vivos em Gaza no dia de seu sequestro.

Já em 30 de novembro de 2023, o Hamas chegou a divulgar um vídeo no qual Yarden Bibas, ainda em cativeiro, implorava a Netanyahu para que sua família fosse enterrada em Israel. No entanto, após sua libertação em fevereiro deste ano, Yarden disse que a mensagem do vídeo foi escrita pelo Hamas, que o obrigou a lê-la.

A família, então, tinha esperanças de que o Hamas havia mentido.

"Minha luz ainda está lá, e enquanto eles estiverem lá, tudo aqui estará escuro", disse ele na ocasião.

"Shiri e as crianças se tornaram um símbolo, disse Yiftach Cohen, morador de Nir Oz, comunidade que perdeu cerca de um quarto de seus habitantes, entre mortos e sequestrados, durante o ataque de 7 de outubro.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, disse que " retorno a Israel dos corpos dos reféns é um drama nacional e nossos corações estão devastados".

"Agonia. Sofrimento. Não há palavras", escreveu o Herzog na rede social X: "Nossos corações — os corações de uma nação inteira — estão devastados. Em nome do Estado de Israel, inclino minha cabeça e peço perdão. Perdão por não proteger vocês naquele dia terrível. Perdão por não trazê-los para casa com vida".

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou em uma breve declaração em vídeo que esta quinta-feira seria "muito difícil para o Estado de Israel. Um dia angustiante, um dia de luto."

2ª fase do acordo em negociação

Segundo a agência de notícias, as negociações para uma segunda fase do cessar-fogo, que deve garantir o retorno a Israel de cerca de 60 reféns restantes. A Reuters informou que menos da metade deles são considerados vivos.

A trégua deverá contemplar também a retirada completa das tropas israelenses da Faixa de Gaza para possibilitar o fim da guerra. No entanto, as perspectivas para um acordo permanecem incertas

"Informamos aos mediadores de que o Hamas está disposto a libertar todos os reféns de uma só vez durante a segunda fase do acordo, e não por etapas como na primeira fase em curso", disse ele à agência de notícias AFP.
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