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'Não será um novo Nakba'; relembre o êxodo histórico de palestinos após a guerra de 1948

Na noite de terça-feira (4), Trump afirmou que quer retirar "todos os moradores" de Gaza de forma permanente. A afirmação foi feita ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Washington.

Em entrevista à France Presse, moradores da Faixa de Gaza reagiram à proposta com indignação.

"O mundo precisa entender esta mensagem: não sairemos como aconteceu em 1948", enfatizou o residente de Rafah, Ihab Ahmed, fazendo referência à guerra de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas com a criação de Israel, e nunca lhes foi permitido retornar.

O episódio é conhecido entre os palestinos como 'o Dia da Nakba', que marcou o início da guerra em 15 de maio de 1948, um dia após a proclamação do Estado de Israel, e deixou muitos refugiados palestinos apátridas até hoje.

O termo Dia da Nakba foi cunhado em 1998 pelo então líder palestino Yasser Arafat. Ele estabeleceu a data como dia oficial para lembrar a perda da pátria palestina.

Palestinos deixam suas terras durante o período da Nakba, em novembro de 1948 — Foto: Jim Pringle/AP/Arquivo

A palavra árabe Nakba significa catástrofe ou desastre. Em relação ao conflito israelo-palestino, o termo Nakba ou al-Nakba se refere ao êxodo palestino durante e após a guerra árabe-israelense de 1948. Estima-se que cerca de 700 mil pessoas tenham fugido ou sido forçadas a deixar suas casas no que hoje é Israel e nos territórios palestinos.

Por que os palestinos tiveram que deixar suas terras?

Até o fim da Primeira Guerra Mundial, o território palestino estava sob domínio turco, como parte do Império Otomano. Com a partilha deste após o fim do conflito, a Palestina passou a ser controlada pelo Reino Unido, no chamado Mandato Britânico da Palestina. A administração civil britânica operou de 1920 a 1948. Nesse período, um número crescente de judeus de todo o mundo se mudou para a região, por considerá-la sua pátria ancestral.

Após o horror do Holocausto na Alemanha nazista, um plano de partilha da Palestina foi aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1947, prevendo a criação de dois Estados: um judeu e outro palestino. A Liga Árabe rejeitou o plano, enquanto a Agência Judaica (autoridade para a comunidade judaica na Palestina antes da fundação do Estado de Israel) o aceitou. Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi proclamado.

Em reação, uma coalizão de cinco Estados árabes declarou guerra, mas acabou sendo derrotada por Israel em 1949. Antes do conflito, entre 200 mil e 300 mil palestinos fugiram ou foram forçados a deixar suas casas. Durante os combates, outros 300 mil a 400 mil foram deslocados. O número total é estimado em cerca de 700 mil palestinos.

Ao longo da guerra árabe-israelense, mais de 400 vilas árabes foram destruídas. Embora haja acusações de violações dos direitos humanos por ambos os lados, o massacre de Deir Yassin – um vilarejo na estrada entre Tel Aviv e Jerusalém – ficou particularmente cravado na memória palestina. Pelo menos 100 foram mortos, incluindo mulheres e crianças. O massacre desencadeou um medo generalizado entre os palestinos e levou muitos a deixarem suas casas.

Ao fim da guerra, Israel detinha cerca de 40% da área inicialmente destinada aos palestinos sob o plano de partilha da ONU de 1947.

A maioria dos palestinos acabou como refugiado apátrida nos países árabes vizinhos, e apenas uma minoria se mudou para fora da região. Até hoje, apenas uma fração dos palestinos da geração seguinte solicitou ou recebeu outras cidadanias. Como resultado, a grande maioria dos cerca de 6,2 milhões de palestinos que vivem hoje no Oriente Médio permaneceu apátrida na terceira ou quarta geração.

Onde os palestinos vivem hoje?

Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês), a maioria dos palestinos na região ainda vive em campos de refugiados que, com o tempo, se transformaram em cidades de refugiados. Elas estão localizadas principalmente na Faixa de Gaza, Cisjordânia ocupada, Líbano, Síria, Jordânia e Jerusalém Oriental.

Estima-se que a diáspora palestina internacional tenha aumentado para cerca de 6 a 7 milhões de pessoas. Isso coloca o número total de palestinos perto dos 13 milhões. No entanto, não há nenhum órgão global monitorando os palestinos na diáspora, e dados precisos não estão disponíveis.

Qual é o direito palestino de retornar?

Segundo a Resolução 194 da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1948 e a Resolução 3.236 de 1974, bem como a Convenção da ONU relativa ao Estatuto dos Refugiados adotada em 1951, os palestinos que são considerados refugiados palestinos têm o "direito de retorno".

Israel, no entanto, nega responsabilidade pela expulsão de palestinos e rejeita esse "direito de retorno", afirmando que isso significaria o fim da identidade de Israel como um Estado judeu.

Existem soluções à vista?

Nos últimos 75 anos, houve diferentes abordagens para resolver a questão palestina. A mais significativa continua sendo a solução de dois Estados, com Israel e uma futura Palestina dividindo Jerusalém em duas capitais. No entanto, há dúvidas de ambos os lados sobre o quão realista isso seria.

Críticos apontam para o crescente número de assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada, o que poderia impedir a existência de um território palestino unido.

Outras sugestões seriam o reconhecimento do status de refugiado por Israel e uma compensação aos palestinos, mas sem retorno às suas terras, ou um reassentamento limitado, ou até um sistema de dois passaportes em um único Estado.

Contudo, uma solução tangível continua distante, por enquanto.

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