O resultado das urnas de outubro nas cidades do Paraná sugere um cenário favorável ao campo da direita e da centro-direita para o pleito de 2026 no estado, com o fortalecimento do grupo do atual governador, Ratinho Junior (PSD), e uma lista de nomes de seu partido dispostos a sucedê-lo no Palácio Iguaçu.
Nas eleições de 2024, o PSD foi a legenda com o maior número de vitórias nas 399 prefeituras em disputa. A sigla de Ratinho Junior abocanhou 164 cidades, distanciando-se com folga dos demais partidos. O União Brasil, que tem o senador Sergio Moro como possibilidade para a disputa ao governo em 2026, conquistou 30 municípios.
Mas a principal derrota do União Brasil foi em Curitiba, onde a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil), mulher do senador, foi candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil). A dupla ficou em quarto lugar, com 6,49%, e, ao final das eleições, Leprevost ainda afirmou que Moro atrapalhou a campanha.
"Eu não estarei com ele para o governo em 2026. Se ele for o candidato do União Brasil, eu terei que sair do partido", disse Leprevost à Folha no mês passado.
No PSD, já há uma fila de interessados na disputa ao Governo do Paraná, como os deputados federais Beto Preto e Sandro Alex, ambos licenciados para cargos de secretários estaduais, e Guto Silva, à frente da pasta de Planejamento. Mas os dois nomes mais fortes do PSD para a vaga são o deputado estadual Alexandre Curi e o prefeito de Curitiba, Rafael Greca.
Neto de Aníbal Khury (1924-1999), que foi um dos políticos mais poderosos do Paraná, Alexandre Curi está no sexto mandato como deputado estadual —em 2022, foi o mais votado para a Assembleia Legislativa, que ele vai presidir a partir do ano que vem.
Nas eleições de 2024, Curi rodou o Paraná e calcula ter 170 prefeitos eleitos apoiados por ele. Mas foi a participação na vitória na capital que o deixou com mais força dentro do PSD. Ele assumiu a coordenação da campanha de Eduardo Pimentel (PSD) no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Curitiba, quando o grupo foi pego de surpresa com o crescimento de Cristina Graeml (PMB).
Já Rafael Greca, que no primeiro turno era considerado o principal padrinho de Pimentel, acabou alvo de ataques de Cristina Graeml e teve sua imagem menos explorada na reta final da campanha. Além disso, o atual prefeito fica sem mandato a partir do ano que vem, distanciando-se do eleitorado.
Mas o PSD também registrou resultados ruins em cidades importantes do Paraná, onde outras forças do campo da direita se saíram melhor nas urnas. Embora tenha conquistado as prefeituras de Curitiba e de Londrina, o PSD perdeu em Maringá e nem foi para a disputa de segundo turno em Ponta Grossa.
Em Maringá, quem saiu vitorioso foi o PP, que no Paraná está nas mãos de Ricardo Barros, deputado federal licenciado para ser secretário de Ratinho Junior e ex-líder do governo Jair Bolsonaro (PL) na Câmara dos Deputados. O prefeito eleito na cidade ainda no primeiro turno, com 65,57% dos votos, foi Silvio Barros, irmão de Ricardo Barros.
Já em Ponta Grossa quem levou a prefeitura foi Elizabeth Schmidt (União Brasil), com o engajamento de Moro na campanha.
No ranking geral, depois do PSD, que ganhou 164 prefeituras, surgem o PP (61 prefeituras) e o PL (52 prefeituras) de Bolsonaro. Em 2026, tanto o PP quanto o PL podem se aliar a um eventual candidato do PSD ao governo, mas as duas legendas possivelmente apresentarão nomes para o Senado.
No PP, o próprio Ricardo Barros é um dos cotados para a disputa por uma das duas vagas do pleito —e que hoje estão ocupadas pelos senadores Oriovisto Guimarães (Podemos) e Flávio Arns (PSB). Outro é o deputado federal Pedro Lupion (PP), presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).
No PL, Filipe Barros, deputado federal da direita radical, é um dos nomes ventilados. Já o bolsonarista e ex-deputado federal Paulo Martins (PL) se enfraqueceu para a disputa ao Senado em 2026.
Embora eleito vice-prefeito de Curitiba na chapa do PSD, Martins acabou ofuscado por Cristina Graeml e a aliança extraoficial da candidata com Bolsonaro.
Já Cristina Graeml se cacifou para 2026 após as urnas de 2024, mas não há definição sobre qual cargo ela disputaria e por qual partido —a saída do PMB é dada como certa.
O próprio governador Ratinho Junior, que já está no segundo mandato no Palácio Iguaçu, pode disputar o Senado pelo PSD, mas o cenário é incerto. Ele já admitiu que está de olho na Presidência da República, mas o PSD de Gilberto Kassab segue com os pés em duas canoas: é aliado de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e também do presidente Lula (PT).
No campo da esquerda, também já há nomes flertando com a disputa ao Senado em 2026, como o deputado federal Zeca Dirceu (PT) e o deputado estadual Requião Filho (PT). Outro nome sempre ventilado, tanto para o Senado quanto para o Governo do Paraná, é o da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.
Mas as legendas ligadas à esquerda ainda assimilam o desempenho ruim nas urnas de 2024. No Paraná, o PT fez apenas 3 prefeituras em outubro. O PDT e o PSB se saíram melhor: fizeram 5 e 14, respectivamente.
A frustração maior do campo da esquerda foi na capital, onde o PT integrou a coligação encabeçada por PSB/PDT, que não foi para o segundo turno.
Em 2026, para a eleição ao governo, o PT não descarta lançar candidato próprio e vê o ex-deputado federal Ênio Verri como possibilidade. Verri tem a Itaipu Binacional nas mãos e já foi secretário estadual do Planejamento na gestão Roberto Requião.
Em 2022, Requião foi o candidato derrotado do PT ao governo e, neste ano, disputou a Prefeitura de Curitiba filiado ao Mobiliza, amargando um sétimo lugar, com 1,83%.
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