O plano "Punhal Verde Amarelo", que, segundo a Polícia Federal, projetava o assassinato do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e cogitava estender a ação a Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), detalhava etapas de ação, necessidade de armamento de guerra e com alto poderio bélico e a forma como os três seriam mortos.
Operação nesta terça-feira (19) mirou um general da reserva, um policial federal e militares com formação nas forças especiais, os chamados "kids pretos", envolvidos no plano, arquitetado para ser colocado em prática no final de 2022.
O plano chegou a ser impresso duas vezes no Palácio do Planalto ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Em três páginas de word, o "Punhal Verde Amarelo", documento, segundo PF, criado digitalmente pelo general da reserva Mario Fernandes, considerava que as condições eram "viáveis", mas com "significativas restrições para uma execução imediata". Ele era, à época, secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Tal qual o planejamento de uma ação militar, a operação tinha, no entender do general, uma possibilidade de êxito "média, tendendo a alta", risco muito alto de danos colaterais, muito alto de captura e alto de "baixas", além de impacto social e político muito alto. Previa ainda como não só "passível", mas "aceitável", ter 100% de baixas.
O documento não usa os nomes de Moraes, tratado como "alvo", nem de Lula ou Alckmin. A Polícia Federal, porém, conclui em seu relatório que é o presidente a figura citada como Jeca, enquanto o vice recebe o codinome de Joca.
"Na análise realizada, também foram levantados outros alvos possíveis, cuja sensibilidade no momento e suas respectivas seg pes (segurança pessoal) não restringem tanto a uma ação de neutralização", diz o projeto da operação Punhal Verde Amarelo.
O primeiro que aparece no texto é Jeca: "considerando a vulnerabilidade de seu atual estado de saúde e de sua frequência a hospitais: envenenamento ou uso de [arma] química/remédio que lhe cause um colapso orgânico. Sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora". À época, a condição de saúde do petista era contestada pela direita.
Já sobre Joca, o general escreve: "considerando a inviabilidade do 01 eleito, por questão de saúde, a sua neutralização extinguiria a chapa vencedora. Como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional", prevê.
Há ainda um quarto alvo, Juca, tratado como "iminência [sic] parda do 01 e das lideranças do futuro governo". A PF, porém, não diz quem seria essa pessoa.
O alvo principal do "Punhal Verde Amarelo", porém, era o ministro Alexandre de Moraes. O documento cita que "algumas possibilidades já foram levantadas", mas que ainda eram necessárias avaliações quanto aos locais viáveis, condições para execução e possibilidades de reforço e proteção do "alvo".
As possibilidades discutidas são "tiro à curta, média ou longa distância", "emprego de munição e/ou artefato explosivo", elemento químico e/ou biológico" com "envenenamento do alvo, preferencialmente durante um evento oficial público".
O plano também cita os meios necessários para efetivar o plano. São listados seis coletes balísticos, equipamentos de comunicação de baixa frequência, armamento individual e coletivo.
De acordo com a Polícia Federal, a lista com o arsenal previsto revela "o alto poderio bélico que estava programado para ser utilizado na ação".
"As pistolas e os fuzis em questão ('4 Pst 9 mm ou .40' e '4 Fz 5,56 mm, 7,62 mm ou .338') são comumente utilizados por policiais e militares, inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados", explica a PF.
Já os armamentos coletivos seriam uma metralhadora M249 (leve e altamente eficaz, projetada para fornecer suporte de fogo em combate, segundo a PF), um lança-granada 40mm e um lança-rojão AT4, antitanque, usado no combate de veículos blindados.
A lista de "demandas para a preparação de condução da ação" cita seis celulares descartáveis com chip da Tim, que a PF lembra ter sido exatamente a estrutura de comunicação utilizada na operação "Copa 2022", ação clandestina para "prender/executar" Alexandre de Moraes em Brasília.
Essa ação, por sua vez, é associada, em representação apresentada pela PF a Moraes, a uma reunião na casa do general Walter Braga Netto no dia 12 de novembro. De acordo com a denúncia, participaram do encontro o general, que havia sido candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima.
Dois dias após o encontro, em 14 de novembro, Oliveira, conhecido como Joe, perguntou para Cid se houve alguma novidade, "possivelmente se referindo ao assunto tratado na reunião" do dia 12, segundo a PF. Cid pergunta sobre a estimativa de gastos e sugere R$ 100 mil como uma estimativa de hotel, alimentação e material.
No dia seguinte, 15 de novembro, Oliveira enviou a Cid um documento denominado "Copa 2022", que a PF depreende ser uma estimativa de gastos para possivelmente viabilizar as ações.
Um mês depois, em 15 de dezembro, um grupo no aplicativo Signal é criado, com o nome "Copa 2022", para tratar da execução do plano contra Moraes.
Participam do grupo seis pessoas, com codinomes que fazem referência a times do Mundial: Gana, Áustria, Alemanha, Argentina, Brasil e Japão. Oliveira seria Japão, enquanto Rodrigo Azevedo, outro dos alvos da operação desta terça, Áustria.
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