- Author, Jeremy Bowen
- Role, Editor internacional da BBC
Há 3 minutos
O plano precisaria da cooperação dos Estados árabes, que já rejeitaram a proposta.
Trump queria que Jordânia e Egito acolhessem os palestinos, mas eles já se manifestaram contra.
Aliados ocidentais dos EUA e Israel também são contra a ideia.
Alguns — talvez muitos — palestinos em Gaza podem ser tentados a sair se tiverem a chance.Mas mesmo se um milhão saísse, até 1,2 milhão de outros ainda estariam lá.
E os Estados Unidos teriam que usar a força para removê-los.
Após a intervenção catastrófica dos EUA no Iraque em 2003, isso seria profundamente impopular nos EUA.
Seria o fim definitivo de qualquer esperança de que uma solução de dois Estados fosse possível.
A solução de dois Estados é a esperança de que o conflito de mais de um século pudesse ser encerrado com o estabelecimento de uma Palestina independente ao lado de Israel.
O governo Netanyahu é totalmente contra a ideia e, ao longo de anos de negociações de paz fracassadas, "dois estados para dois povos" se tornou um slogan vazio.
Mas tem sido um pilar central da política externa dos EUA desde o início dos anos 1990.
O plano de Trump também viola o direito internacional.
As afirmações americanas de que o país acredita em uma ordem internacional baseada em regras se dissolveriam. E as ambições territoriais da Rússia na Ucrânia e da China em Taiwan seriam turbinadas.
O que as falas de Trump significam para a região?
Por que se preocupar com tudo isso se o plano não está prestes a ser realizado — pelo menos não da forma como Trump anunciou em Washington, observado por um sorridente e claramente encantado Benjamin Netanyahu?
A resposta é que os comentários de Trump, por mais absurdos que sejam, terão consequências.
Ele é o presidente dos Estados Unidos, o homem mais poderoso do mundo — não mais um apresentador de reality show tentando aparecer na mídia.
A curto prazo, a interrupção causada por seu anúncio pode enfraquecer o já frágil cessar-fogo em Gaza.
A ausência de um plano para a governança futura de Gaza já é uma falha no acordo.
Agora Trump forneceu um, e mesmo que não aconteça, ele toca em pontos muito sensíveis nas mentes de palestinos e israelenses.
A fala de Trump alimenta os planos e sonhos de extremistas ultranacionalistas israelenses que acreditam que toda a terra entre o Mediterrâneo e o rio Jordão, e talvez além, é uma posse judaica dada por Deus.
Seus líderes fazem parte do governo de Netanyahu e o mantêm no poder — e eles estão felizes.
Eles querem que a guerra de Gaza seja retomada com o objetivo de longo prazo de remover os palestinos e substituí-los por judeus.
O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, disse que Trump havia fornecido a resposta para o futuro de Gaza após os ataques de 7 de outubro.
Sua declaração disse que "quem cometeu o massacre mais terrível em nossa terra se verá perdendo sua terra para sempre. Agora agiremos para finalmente enterrar, com a ajuda de Deus, a perigosa ideia de um Estado palestino."
Os líderes da oposição centrista em Israel têm sido menos efusivos, talvez temendo problemas futuros, mas expressaram uma recepção educada ao plano.
O Hamas e outros grupos armados palestinos podem sentir a necessidade de responder a Trump com algum tipo de demonstração de força contra Israel.
Para os palestinos, o conflito com Israel é motivado pela desapropriação e pela memória do que eles chamam de al-Nakba, "a catástrofe".
Mais de 700 mil palestinos fugiram ou foram forçados a deixar suas casas pelas forças israelenses.
Todos, exceto um punhado, nunca foram autorizados a voltar e Israel aprovou leis que ainda usa para confiscar suas propriedades.
Agora o medo é que isso aconteça novamente.
Muitos palestinos já acreditavam que Israel estava usando a guerra contra o Hamas para destruir Gaza e expulsar a população.
Faz parte da acusação deles que Israel está cometendo genocídio — e agora eles podem acreditar que Donald Trump está legitimando os planos de Israel.
Qual a motivação de Trump?
Só porque Trump diz algo, isso não o torna verdadeiro ou certo.
Suas declarações são frequentemente mais como jogadas iniciais em uma negociação imobiliária do que expressões da política estabelecida dos Estados Unidos.
Talvez Trump esteja espalhando alguma confusão enquanto trabalha em outro plano. Dizem que ele anseia pelo prêmio Nobel da paz.
Há um histórico de prêmios que foram para pessoas que se dedicam à paz no Oriente Médio, mesmo quando elas não foram bem sucedidas.
Enquanto o mundo digeria seu anúncio sobre Gaza, Trump postou em sua plataforma de redes sociais Truth Social que queria um "acordo de paz nuclear" com o Irã.
O regime iraniano nega que queira armas nucleares, mas tem havido um debate aberto em Teerã sobre se eles estão agora tão ameaçados que precisam das armas de destruição em massa.
Por muitos anos, Netanyahu quis que os EUA, com a ajuda israelense, destruíssem as instalações nucleares do Irã. Fazer um acordo com o Irã nunca fez parte de seu plano.
Durante o primeiro mandato de Trump, Netanyahu travou uma longa e bem-sucedida campanha para persuadi-lo a retirar os EUA do acordo nuclear que o governo de Barack Obama assinou com o Irã.
Se Trump queria dar algo à direita radical israelense para mantê-la feliz enquanto ele faz propostas aos iranianos, ele conseguiu.
Mas ele também criou incerteza e injetou mais instabilidade na região mais turbulenta do mundo.
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