Após ser massacrado na eleição municipal deste ano, quando conquistou 273 prefeituras, o que resta do PSDB luta para manter 2 dos 3 governadores de estado que ainda tem.
O caso mais consolidado é o de Pernambuco, onde Raquel Lyra está com dois pés na canoa do PSD. Ela e a sigla se aproximaram bastante na campanha eleitoral, com Raquel apoiando candidatos do partido de Gilberto Kassab.
A governadora diz que não é hora de falar em troca. "Meu mandato é para Pernambuco." Ela declara que tem boa relação com o governo Lula (PT) em nome de parcerias para o seu estado. "Já fui 58 vezes a Brasília", disse, por telefone, da capital federal na quarta (13).
Apesar do discurso público, sua insatisfação com a oposição automática dos tucanos a Lula é notória.
Ela também sabe que o encolhimento do PSDB significa parcos recursos para tentar disputar a reeleição em 2026, uma contenda na qual desponta como forte candidato o prefeito reconduzido do Recife, João Campos (PSB).
O PSD, com a musculatura de maior partido do país em número de prefeituras (887) e ampliando seu espaço no Congresso, surge como a casa ideal para Raquel, que também foi sondada pelo MDB. Como diz um dirigente da sigla, a ficha de filiação da governadora está pronta.
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, diz que "há muita especulação" sobre a sigla.
Chamou Raquel de "grande quadro" e lembrou que o PSDB, sob a liderança da governadora, virou o partido com mais prefeituras no estado, 32, ante 31 do PSB de Campos. Como publicou o Painel, Raquel visa manter esse apoio com uma saída negociada.
Nas contas da governadora, 126 das 184 cidades pernambucanas estão nas mãos de aliados seus. "Ela nunca mencionou a vontade de deixar o partido", desconversa Perillo, ante a realidade colocada.
Segundo aliados do tucano, uma alternativa para mantê-la seria a oferta da vaga de candidata a presidente em 2026.
O postulante presumido, o governador Eduardo Leite (PSDB), sinalizou à direção da sigla que não deverá topar a empreitada, deixando seu futuro indefinido —ele foi reeleito em 2022 após fracassar em ser presidenciável e pode disputar o Senado na próxima eleição.
O problema é combinar com a pernambucana, que, segundo interlocutores no estado, descarta qualquer ideia que não seja a de disputar a reeleição.
Menos claro é o quadro de Mato Grosso do Sul, onde o PSDB se tornou uma improvável potência, com grande viés à direita na frequência bolsonarista —ainda que conte com o PT no secretariado do governador Eduardo Riedel.
O partido elegeu 44 dos 79 prefeitos do estado neste ano e conta com três deputados federais. O grupo tem na liderança o ex-governador Reinaldo Azambuja, que é tesoureiro do PSDB, e está sob forte assédio do PL de Jair Bolsonaro.
Segundo políticos da região, há um acordo informal para que Riedel, Azambuja e boa parte dos prefeitos migrem em massa para o PL a tempo do pleito de 2026. Ou seja, a negociação ainda está em curso, e a mudança não será imediata.
Aliados de Riedel contestam essa versão, buscando deixar o governador com a mão mais alta na mesa, até porque quem tem o capital político a ser conquistado é ele. Segundo eles, há mais rumores do que certezas nas conversas, e qualquer decisão só será tomada a partir do ano que vem.
A Folha procurou o governador, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem.
Perillo lista os atributos tucanos no estado para argumentar que não faz sentido falar em perder o consórcio Riedel-Azambuja. "O ex-governador é o tesoureiro nacional do PSDB, participa de todas as discussões sobre a ampliação da federação que temos com o Cidadania e tem nos ajudado na busca por novas lideranças", afirma.
Isso dito, o presidente tucano concede: "Será uma enorme surpresa se qualquer um dos nossos governadores, deputados ou prefeitos recém-eleitos deixarem o PSDB", diz.
"Com 10, com 100, com 1.000 ou com milhões, vamos continuar com a convicção forte de que somos um partido com passado, presente e futuro."
Segundo integrantes da Executiva tucana, Perillo está particularmente irritado com o assédio de Kassab, cujo PSD engoliu o espólio de prefeituras do PSDB em São Paulo, seu antigo bastião.
Não é processo novo, tendo começado com o desmonte do partido na atabalhoada passagem de bastão de João Doria para Rodrigo Garcia, derrotado no primeiro turno na eleição que viu Tarcísio de Freitas (Republicanos) triunfar sobre Fernando Haddad (PT) em 2022. Isso dito, a fatura foi encerrada agora.
Perillo diz que o PSDB rejeita o populismo "de direita e de esquerda".
"O radicalismo burro é totalmente carente de respostas e soluções eficientes às demandas do povo. Não sucumbiremos ao fisiologismo, ao adesismo e muito menos ao oportunismo de ocasião", afirma.
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