Crédito, Getty Images
- Author, Matt Murphy e Jake Horton
- Role, BBC Verify
Há 26 minutos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou aparentemente a Ucrânia de ser responsável pela guerra com a Rússia, em uma onda de alegações feitas a partir de sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida.
Falando a jornalistas, Trump também fez afirmações sobre a popularidade do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e observou que a Ucrânia ainda não havia realizado eleições devido à lei marcial.
Os comentários de Trump — alguns dos quais pareciam espelhar pontos defendidos pelos russos sobre a guerra — ocorreram poucas horas após autoridades americanas se reunirem com uma delegação russa em Riad, na Arábia Saudita, para abrir negociações para encerrar o conflito, que já dura quase três anos.
Zelensky mais tarde acusou Trump de "viver em um universo de desinformação" criado pela Rússia.
O BBC Verify, serviço de checagem de fatos da BBC, verificou as alegações de Trump.
Afirmação: 'Vocês nunca deveriam ter começado isso'
Autoridades ucranianas expressaram insatisfação por não fazerem parte das negociações de terça-feira (18/2) em Riad.
Mas Trump refutou isso dizendo que a Ucrânia teve três anos para encerrar a guerra, antes de parecer culpar Kiev por iniciar o conflito.
"Vocês nunca deveriam ter começado isso", disse ele.
A Rússia também já acusou a Ucrânia de ter dado início à guerra.
"Foram eles que começaram a guerra em 2014", disse o presidente russo, Vladimir Putin, ao apresentador de talk show americnao Tucker Carlson em fevereiro de 2024.
"Nosso objetivo é parar essa guerra. E não começamos essa guerra em 2022."
A Ucrânia não começou a guerra. A Rússia lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, tendo anexado a Crimeia em 2014.
A anexação ocorreu depois que o presidente pró-Rússia da Ucrânia ser deposto por manifestações populares.
O Tribunal Internacional de Justiça rejeitou as alegações de Moscou.
Após o fracasso dos acordos que visavam encerrar o conflito pós-2014, a Rússia aumentou bastante o número de tropas em sua fronteira com a Ucrânia no final de 2021.
Putin deu início à invasão em 24 de fevereiro de 2022, afirmando que o objetivo da operação era "desmilitarizar e desnazificar" o governo pró-Ocidente de Zelensky e impedir que o país se juntasse à aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Nas últimas eleições parlamentares da Ucrânia, o apoio a candidatos de direita radical foi de 2%.
Também deve ser ressaltado que Zelensky é judeu e que seu partido tem sido considerado centrista.
E embora autoridades da Otan tenham dito em 2021 que a Ucrânia era candidata a se juntar à aliança militar ocidental no futuro, isso não fazia parte de nenhum processo formal.
Afirmação: 'Odeio dizer isso, mas ele tem apenas 4% de aprovação'
Trump também afirmou que o índice de aprovação de Zelensky caiu para 4%.
Não está claro qual a fonte que o presidente americano estava citando, porque ele não indicou isso — e a Casa Branca não respondeu a um pedido esclarecimento da BBC até o momento de publicação desta reportagem.
Uma pesquisa realizada este mês apontou que 57% dos ucranianos disseram confiar no presidente, de acordo com o Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, sediado na Ucrânia.
No entanto, o índice era de 77% no final de 2023 e de 90% em maio de 2022 — sugerindo que o presidente ucraniano sofreu uma queda de popularidade.
Algumas outras pesquisas sugerem que Zelensky está atrás de seu maior rival, o ex-chefe do Exército Valerii Zaluzhnyi, no primeiro turno de qualquer eleição futura, mas as sondagens indicam que eles se enfrentariam em um segundo turno.
As pesquisas oficiais são limitadas e é extremamente difícil realizar pesquisas precisas durante um período de guerra.
Milhões de ucranianos fugiram, e a Rússia ocupou cerca de um quinto do país.
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Na esteira dos comentários de Trump, alguns dos principais veículos de comunicação russos aproveitaram a alegação e citaram uma pesquisa realizada pelo parlamentar ucraniano e crítico de Zelensky, Oleksandr Dubinsky, no Telegram, que eles alegaram que respaldava a avaliação de Trump.
Dubinsky foi acusado de traição na Ucrânia e acusado de "operar a mando da inteligência russa" — o que ele nega.
Afirmação: Zelensky é um 'ditador sem eleições'
Trump também chamou a atenção para o fato de que a Ucrânia não realiza eleições presidenciais desde 2019, quando Zelensky — antes um comediante sem base política — chegou ao poder.
Trump repetiu as alegações em uma publicação no Truth Social, na qual acusou o líder ucraniano de ser um "ditador sem eleições".
Seu primeiro mandato de cinco anos deveria terminar em maio de 2024.
No entanto, a Ucrânia está sob lei marcial desde a invasão russa em fevereiro de 2022, o que significa que as eleições estão suspensas.
As leis marciais da Ucrânia foram elaboradas em 2015 — logo após a Rússia anexar a Península da Crimeia e anos antes de Zelensky e seu partido chegarem ao poder.
Em novembro, todos os partidos no Parlamento ucraniano apoiaram o adiamento das eleições até o fim da guerra, uma posição que uma pesquisa sugere ser popular entre os ucranianos.
Cerca de 60% das pessoas se opuseram à realização de eleições para substituir Zelensky durante a guerra, de acordo com uma pesquisa com ucranianos realizada em setembro e outubro pelo Instituto Republicano Internacional.
Zelensky prometeu realizar uma nova eleição assim que o conflito terminar e ainda não confirmou se pretende concorrer.
Alguns especialistas observaram que realizar eleições na Ucrânia antes do fim do conflito seria praticamente impossível, já que os ataques russos a muitas cidades persistem, e milhões de cidadãos se refugiaram no exterior ou vivendo sob ocupação russa.
A intervenção de Trump sobre o assunto ocorreu poucas horas depois que o Kremlin questionou a legitimidade de Zelensky, já que seu mandato no cargo havia terminado, uma alegação que Moscou fez repetidamente nos últimos meses.
Em 28 de janeiro, Putin chamou Zelensky de "ilegítimo" em uma entrevista à mídia russa.
Referindo-se à situação eleitoral, Trump pareceu ciente de que tem sido uma alegação russa frequente, dizendo: "Isso não é uma coisa russa, é algo que vem de mim, de outros países".
Por sua vez, Zelensky disse anteriormente que seria "absolutamente irresponsável lançar o assunto das eleições" no meio do conflito.
*Com reportagem do BBC Monitoring.
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