De Haia, Holanda
O governo do Estado montará uma divisão de emergência para tratar de eventos críticos, como enchentes, e verificar as condições de segurança de barragens e diques gaúchos. A unidade, que será implementada neste ano, fará parte do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema).
Conforme a secretária da pasta, Marjorie Kauffmann, já foi autorizada a contratação de hidrólogos e engenheiros para compor o núcleo de segurança de barragens e outras emergências hídricas.
"Identificamos que precisaria de um mecanismo como esse porque temos várias barragens de grande porte, inclusive para irrigação", assinala.
Marjorie integra a missão gaúcha que está na Holanda para acompanhar ações de combate às cheias. Segundo ela, visitar essa nação para conhecer as medidas que o país tomou na mitigação dos efeitos das enchentes é uma espécie de torna mais palpável a experiência. "É diferente de olhar uma imagem ou apresentação, é ver como a coisa funciona mesmo", enfatiza.
Nessa sexta-feira (21), a comitiva gaúcha teve encontros com autoridades e empreendedores holandeses ligados à gestão da água. Na ocasião, o governador Eduardo Leite (que usou uma gravata laranja, em homenagens aos anfitriões), lembrou que recentemente o governo gaúcho assinou com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o projeto RIOs – Resiliência, inovação e obras para a proteção do futuro do Rio Grande do Sul. A iniciativa, que terá um aporte de cerca de R$ 30 milhões, vai viabilizar os estudos de riscos da bacia hidrográfica do Guaíba e encaminhar anteprojetos de proteção de inundações.
"O primeiro produto é justamente o de governança, nos ajudar a entender como que institucionalmente a gente deve conduzir a solução para uma agência ou outro formato de instituição que ajude a regular e encaminhar soluções na área de gerenciamento de riscos relacionados à enchente", afirma o governador.
Comitiva gaúcha tem reuniões com a agência governamental holandesa que é referência mundial em infraestrutura e gestão hídrica Mauricio Tonetto/Secom/Divulgação/JC
Leite frisa que a expectativa da missão na Holanda é, além de olhar respostas do ponto de vista técnico ou de engenharia, que naturalmente virão à tona, observar como os Países Baixos lidam com a gestão dessas estruturas e definem financiamentos e incentivos ao tema hídrico.
Sobre o RIOs, Marjorie complementa que o projeto irá desenhar um plano, que deve ser concluído ainda em 2025, quanto ao deslocamento de comunidades. Ela admite que essa movimentação de pessoas é algo delicado. "Porque envolve questões sociais, econômicas e ambientais", argumenta a secretária.
Ela acrescenta que é necessário fazer estudos de topografia e batimetria para indicar as áreas que precisariam ser desocupadas. Por sua vez, o secretário estadual da Reconstrução, PedroCapeluppi, sustenta que sempre é importante para o Rio Grande do Sul buscar referências positivas para enfrentar seus desafios e a Holanda se estruturou para tratar das enchentes. Um dos projetos ressaltados pelo secretário é o Room for the river (Espaço para o rio).
De acordo com ele, essa é uma iniciativa que pode servir de referência a muitos empreendimentos a serem desenvolvidos em território gaúcho. Ele explica que foram criadas áreas na Holanda que podem ser ocupadas pela elevação do nível da água, sem implicar prejuízos para a população no entorno. Capeluppi detalha que são lugares em que, muitas vezes, a população é realocada para que espaços públicos sejam construídos e, caso ocorra uma enchente, essas áreas possam ser usadas para absorverem a água em casos de cheia.
Um exemplo seriam parques, que em dias normais poderiam ainda ser utilizados para lazer. O secretário cita que o Parque Marinha, em Porto Alegre, é uma estrutura que pode cumprir essa função.
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Sobre o projeto de revitalização do Cais Mauá, na Capital, cuja assinatura do contrato de concessão foi suspensa após as enchentes do ano passado, Capeluppi considera que as experiências holandesas também poderão ser aproveitadas para dar continuidade a esse empreendimento. Ele ressalta que será visitada uma solução de usos de barreiras móveis, que é semelhante ao que estava previsto para o projeto do Cais Mauá para realizar a proteção daquela área.
Ainda quanto a esse empreendimento, o secretário informa que a expectativa é assinar o contrato neste ano. Também envolvendo concessões, Capeluppi espera que o edital do leilão do Bloco 2 de rodovias, que envolve estradas no Vale do Taquari e Região Norte do Estado, seja publicado no primeiro semestre deste ano, para que o certame seja disputado na segunda metade do ano.
Meike van Ginneken, enviada das águas para o Reino dos Países Baixos César Lopes/PMPA
Reflexo no clima é pior do que se esperava, indica especialista
"As mudanças climáticas são reais e o impacto é pior que pensávamos", enfatiza a enviada das águas para o Reino dos Países Baixos, Meike van Ginneken. Porém, ela ressalta que as enchentes não passam apenas pelas questões climáticas, mas também pelo crescimento populacional e cenários econômicos.
Para Meike, o enfrentamento das mudanças climáticas e suas consequências acontecerá por respostas tecnológicas e de engenharia, sistemas de proteção de água e planejamento. Meike foi uma das especialistas ligadas à gestão dos recursos hídricos da Holanda que recebeu a missão gaúcha no país. O grupo também teve contato com a diretora da RVO (agência de desenvolvimento vinculada ao Ministério da Economia dos Países Baixos), Annette Wijering, que salientou que cada país tem sua história, mas espera que a experiência holandesa na proteção contra enchentes e construções de diques seja útil para o Rio Grande do Sul.
Já o Chefe do Netherlands Business Support Office (NBSO) em Porto Alegre, Casparvan Rijnbach Rijnbach, comenta que há soluções que podem ser adotadas mais rapidamente, como diques e barreiras, e outras mais complexas como o Room for the River, que levou décadas para ser implementado. "É algo que precisa ser planejado, eu brinco que a Holanda não foi feita em um dia só", afirma Rijnbach.
Em seu discurso para os holandeses, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, recordou que a capital gaúcha foi muito afetada pelas enchentes. Ele reforçou a necessidade de os municípios também participarem das respostas aos problemas. "O mundo é global, mas as ações são sempre locais", finalizou Melo.
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