O comandante do Exército, general Tomás Paiva, visitou nesta sexta-feira (7) Walter Braga Netto em sua cela, na zona oeste do Rio de Janeiro. O UOL apurou que a visita durou cerca de 15 minutos e visava verificar a saúde do general da reserva, se a família dele está amparada e se ele tem acesso à defesa.
O comandante aproveitou uma passagem pela capital fluminense para fazer a visita, e encontros com militares atualmente presos fazem parte da rotina do chefe da força.
O UOL apurou que Braga Netto é o único militar detido atualmente na Vila Militar no Rio e que não apresentou nenhuma reclamação a Tomás Paiva. Em todo o país, há atualmente 15 oficiais e 82 praças presos, seja cumprindo uma condenação, seja preso preventivamente.
Braga Netto está há mais de 50 dias preso. Segundo fontes ligadas ao caso, ele vem demonstrando tranquilidade e suportando a situação, mesmo sem concordar com a prisão.
Ele e Tomás Paiva chegaram a trabalhar como ajudantes de ordem no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O general da reserva foi ministro da Defesa e chefiou a Casa Civil durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A prisão de Braga Netto, detentor da mais alta patente que um militar pode alcançar, a de general de quatro estrelas, membro da alta cúpula é inédita. O militar acumulou experiências com situações de tensão em sua carreira, o que, segundo apurou o UOL, tem contribuído para não demonstrar abatimento.
A investigação sobre tentativa de golpe de Estado mostrou Braga Netto incitando em 2022 a divulgação de mensagens com críticas a militares legalistas, como Tomás Paiva. O episódio causou mal-estar na caserna, que acabou dividida sobre a prisão, ocorrida em 14 de dezembro.
A detenção foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que concordou com a Polícia Federal e a PGR (Procuradoria-Geral da República) e entendeu que o militar teria tentado obstruir a investigação ao buscar informações junto ao pai de Mauro Cid, o general Mauro Lourena Cid, sobre a delação premiada do filho.
Antes de ser preso, ele foi chamado a depor, em fevereiro de 2024, no inquérito sobre tentativa de golpe. Na ocasião, ficou em silêncio. Depois de ser preso, porém, Braga Netto trocou de advogado, e sua defesa pediu que ele fosse ouvido novamente.
O general já foi indiciado, assim como Bolsonaro, por tentativa de golpe, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O caso está sob análise da PGR, que deve apresentar denúncia ainda neste mês. Os desdobramentos da investigação sobre tentativa de golpe seguem sob sigilo.
Ele foi preso em quarto do chefe de Estado-Maior da 1ª Divisão do Exército, na zona oeste do Rio. O local foi adaptado para funcionar como cela e conta com televisão, ar-condicionado e banheiro privativo. Ele pode receber apenas visitas de familiares e de seus advogados, em determinados dias da semana.
Segundo o Código de Processo Penal, a prisão deve ser reavaliada após 90 dias pelo juiz responsável pelo caso. A lei também prevê que o inquérito seja concluído dez dias após a prisão preventiva e que o Ministério Público apresente denúncia em até 15 dias.
O prazo para encerrar a investigação pode ser prorrogado a pedido das autoridades. Na prática, em casos complexos, o MPF e a PF demoram mais para concluir as investigações e apresentar denúncia, e costumam ouvir o investigado antes de concluir o inquérito.
A investigação revelou o envolvimento de Braga Netto em ataques virtuais a outros generais. Elementos no inquérito da corporação mostraram que o ex-ministro deu orientações para que ataques ao comandante do Exército fossem disseminados por mensagens.
Além disso, a PF aponta que ele teria dado dinheiro em caixas de vinho a militares que estavam organizando um plano para matar o presidente Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e Moraes.
Segundo o relatório do órgão, Braga Netto teria dado ordens para que o ex-major Ailton Gonçalves Barros disparasse mensagens "com o objetivo de atingir a reputação do general Tomás Paiva, atual comandante do Exército, integrante do Alto-Comando do Exército, que também adotou uma posição legalista".
Nas mensagens, ele diz que o comandante "nunca valeu nada" e tentou vinculá-lo ao PT. "Parece até que ele é PT desde pequeninho", escreveu, para acrescentar, ao final: "É verdade. Pode viralizar".
Brasília Hoje
Receba no seu email o que de mais importante acontece na capital federal
Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro